Chorar foi a primeira coisa que lembro de ter feito antes mesmo de ver o sol,
Ouvir tua voz no meu ouvido ou sentir um beijo-carinho na minha testa
Chorei, talvez, pressentindo o meio dessa história
Meio, sim! Pois ali foi o começo,
E agora não estou propriamente no fim
Caminho para ele, mas acho que falta ainda um pouco
Aliás, lembro-me que chorar não foi a primeira coisa que fiz
Falaram-me que eu doí
Então doer foi a minha ação original?
É, eu doí muito!
Talvez tenha chorado de dor
Parado aqui nesta rua, esta claridade me dói!
Lembro quando saí do escuro pela primeira vez e descobri a luz, me assustei!
Eu que já doía, juntei o susto e chorei.
Então por que choro agora se já sou acostumado com a luz
E as coisas já não me doem tanto?
Estou apático, chorando!
Não concordo com o meu direito à vida
Ninguém tem o direito de fazer a vida doer
E eu dou a minha vida
Eu corto, dopo, passo fome, drogo, risco, mal digo minha vida
Ela, coitada, que é tão inocente quanto eu!
Ela que também não sabia que ia nascer!
Ela que nem tem consciência!
Ah! O problema é dela!
Ela que fique esperta!
Acorde antes de atropelá-la!
Não bebo há duas semanas e meu fígado sente falta, está de mau humor
Falo isso porque vejo aqui no canto, um resto de cerveja quente
Minha vida diz para eu não tomar e eu tenho impulso de desobedecê-la
Corro para pegar, escorrego, caio e derrubo o copo
Lá se vai a última gota do que eu queria
Vai direto pra boca de um imbecil cachorro que lambe o chão
Quase dou um ponta-pé nele,
E me abaixo para lamber minha cerveja
Mas tenho medo da morte,
Tenho medo de dentes
Roendo as unhas quebrei um canino.
Por que os cães não quebram os dentes?
Todos neles são caninos, né?
Eu que só tinha dois, fiquei com o canino esquerdo
Posso mordê-lo, seu quadrúpede, com o esquerdo
E aí será de igual para igual
Dizem que cachorro faz companhia ao homem
Faz uma “uma companhia retada!”
Só se for para os idiotas que não sabem viver fora do seu próprio eixo, seu umbigo
Que não se interessam pela história dos outros
Nem querem ouvir verdades quando desabafam para o irracional que abana o rabo e faz festa
Como se a pessoa tivesse acabado de contar uma piada
Oh! Bicho burro é cachorro!
Odeio gatos, mas eles tem isso de bom:
Não se aproximam nem quando você está bem nem quando se debulha em lágrimas
Você que amadureça resolvendo seus problemas sozinho!
Ele só quer sua comida e o conforto do seu sofá
Perdi um gato há duas semanas
Cansou de minha comida e caiu da minha cama
Tinha pêlos demais, era preto meu gato!
Os olhos assustadoramente amarelos!
Uma elegância comum em todos os gatos,
Mas como era o meu, eu achava o melhor, o mais bonito
O lombo exageradamente macio
E o rabo sempre entrelaçado em mim
Gato preto!
Volta gato “feio”!
Gato traidor!
Seu arranhão me dói!
Você me deu azar e todos me alertaram para isso
Não dei ouvidos
Ah! Esse cachorro me lambendo!
Parece a solidão sentada aos meus pés se apoiando em meus joelhos
Solidão imbecil!
Claridade imbecil!
Bem no meio da histórias parece que acabo de nascer
Primeiro me dói e agora começo a chorar em plena luz
Deve ser porque no escuro eu me iludisse,
Pensando estar escondido no abraço de meu gato
Quem acendeu esse sol, favor desligar!
Edu! Que texto FANTÁSTICO! Que ritmo, que força, quanto sentimento rolando, se multiplicando, alucinando.
ResponderExcluiralucinante. psiquiátrico até, eu digo... bom de ler, fluido de correnteza forte. Valeu!
ResponderExcluirJá li três vezes. Estou entrando em surto. Isso é que é efeito!
ResponderExcluirOlá! Agradeço por visitar meu cantinho e pode voltar lá sempre que sentir vontade, será um prazer te receber!
ResponderExcluirTenha uma linda semana,
Beijo
A dor, a raiva, o sentimento de perda, tão bem retratado. Quem lê sente também um nó na garganta.
ResponderExcluirEdu: arte é com você mesmo. E arte no sentido bem amplo, pois além do texto, há o Edu que brilha no palco.
ResponderExcluirObrigado a todos
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