Estava lá, escondido na caixa de fotografias, o antigo coágulo da infância, incontestável e cambaleante, testemunha de um crescimento erguido sobre paredes mal acabadas, desbotadas e sem justiça, resguardadas às custas de imaginação e de resistência para não sucumbir diante da intimidação mutiladora das virtudes. Estava lá, escondido na caixa de memórias, o antigo coágulo da infância, trancado por dentro em um silêncio camuflado, nunca olhado, examinado, compreendido. Silêncio isolado pelos sons alheios, pelo estrondo de outros corpos, mantido feito uma doença contagiosa, encapsulado e mal visto. Estavam lá o coágulo e sua criança, caminhando a passos tímidos sobre os pés largos e duros de uma forma agora sóbria, adulterada e ainda em busca de equilíbrio.
gostei!
ResponderExcluirEsrá espectacular... Esse crescimento tão doloroso para uma criança, às vezes, invisível aos adultos e na qual eles tem tanta influência... Mas há alguns reais, Bípede, já viu o filme: "Precious"? Não sei qual o título que colocaram no Brasil...
ResponderExcluirVocê escreve muito bem.
ResponderExcluirEste post me fez lembrar das botinhas que os meninos e as meninas da minha idade eram obrigados a usar para "endireitar" os pés.
ResponderExcluirAi eu usei Carlos...e era gordinha e usava óculos... então imagina o cenário... Como foi minha passagem pela pré-escola rs rs rs
ResponderExcluirBípede, ao ler as 2 primeiras frases, já sei quando o texto é seu - isso se chama estilo, menina! É o que todo escritor deseja alcançar. Parabéns!
ResponderExcluirPrisca, não vi o filme. Acho que o título é o mesmo aqui. Vou checar. Obrigada pela dica.
ResponderExcluirObrigada pessoal :)
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