foto de Viersturs Links do site olhares
A lareira é grande. Sentada a um dos cantos, na cadeira confortável manténs a distância suficiente para que o lume crepitante não te aqueça demasiado. Desde miuda que sempre gostaste de te debruçar assim perigosamente perto da lareira. Sorris e lembras a voz estridente da tua mãe: - "Sai daí ou ainda te queimas, raio de miúda, se te deixasse sentavas-te em cima do lume."
Largas por momentos a camisola de lã que nasce das agulhas grossas e brincas com um pauzinho por entre as fagulhas. E voltam-te à memória as lembranças: -" Não brinques com o lume que fazes chichi na cama". Que bela maneira de inventar desculpas para que não te aproximasses.
Voltas para a camisola. Uma laçada, outra. Brincas artisticamente com o tic-tic das agulhas inventado um ritmo musical. Gostas de a ver nascer e crescer assim, das tuas mãos. Como se o simples facto te criares alguma coisa te pudesse manter ocupada e distraída. Já fazem pouca falta, as camisolas. Fora de moda pelo que dizem. Fazes para ti, embora fora de moda ainda te conseguem manter aquecida.
Qualquer coisa bate, lá dentro. Levantas-te um pouco a custo e vais ver o que é. Procuras mas não se encontra nada fora do sitio e voltas para o quente aconchego da cadeira ao pé do lume. Reinicias a tic-tic compassado do tricotar. Agora são os miudos que tem vêm à memória: - " Vózinha , queremos torradas e café com leite da lareira". Adoram os lanches que lhes fazes e que compartilham sempre que te visitam pelas férias. Comida com sabor a carinho e saudade. Entre pensamentos e saudades o tic-tic das agulhas quase que te hipnotiza e começas a deixar de ouvir, depois olhas para a porta do corredor e lá está ele, a sorrir tal e qual como da ultima vez que o viste. - " O que é que fazes aqui?"
- " vim- te buscar..."
Levantas-te e olhas para trás, na cadeira estás tu, adormecida, com a camisola e as agulhas caídas no colo.
-" Vens?"
Para a minha avó...
Lou, tive uma avó inesquecível. Tenho comigo a sua cadeira de palhinha. Ela era decente, firme e amorosa. Nos protegia feito uma leoa e nos ronronava feito uma gata. Também nos estragava e bastante. Talvez, tenha sido essa a melhor parte :)
ResponderExcluirAdoreiiiiii o seu post!!!!
E é tão bom ter uma avó Assim, Firme mas carinhosa ;) beijos.
ResponderExcluirGostei tanto da sua avó! O final do texto é lindíssimo. Beijo.
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