segunda-feira, 26 de abril de 2010

Continuando… (18)



Tremia tanto que julgou não conseguir atravessar o corredor estreito que a separava da porta.
O velho arrastara-se a chinelar pelas escadas, tão perdido em murmúrios e maldições, que não a adivinhou escondida na penumbra.
Ela não pode deixar de sorrir, à passagem da sua figura descomposta. O que haveria no quarto para o abalar tanto assim? Logo ele, sempre tão atento, sempre tão pronto a persegui-la, sem folgas nem perdões.
“Foi qualquer coisa que ele viu lá dentro”, pensou, “e seja o que for eu vou saber agora…”
O coração batia com tanta força que temeu que pudesse denunciá-la.
A palma da mão, suada, escorregou na maçaneta perra.
Passou a mão pela coxa, secou-a na cambraia delicada da camisa de noite e sorriu confiante, ia entrar, encontrar as suas respostas, ou não, mas isso veria depois de estar lá dentro.
Mas, no instante em que ia rodar a chave, o relinchar dos cavalos no pátio, a confusão de rodas na gravilha, o bater de portas e a voz familiar que há mais de seis meses não soava naquela casa, bastaram para lhe gelar o sangue e sugar a coragem.


(continua…)

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