terça-feira, 20 de abril de 2010

QUANDO A VIDA NÃO CABE

Imagina a melhor coisa que já aconteceu na tua vida, a melhor fase até agora. Ou a pior. A mais dolorida. Algo forte e intenso. Ou o próprio agora, se preferires. Tu não tens vontade de escrever essa história, inclusive pelo medo de algum dia a esqueceres? Esqueceres dos detalhes, das mudanças graduais, do surgimento e da ordem dos acontecimentos? Não seria bom dares um “tempo de gaveta” à tua própria vida... Não te entusiasmas com isso? Fazeres uma releitura crítica de ti mesmo? Se este teu livro, este manuscrito, em horas boas ou ruins, pudesse dizer: ei, olha pros teus dias! Viu, isso aconteceu contigo! Nunca sentiste um apego emocional pela tua própria vida? Pelo que foste, pelo que te tornaste? Seriam como fotografias descritas. Testemunhos. A mente falha, esquece, apaga. O tempo torna menor o que era grande, e maior o que não tinha tanta importância. Quando a vida já não cabe mais em blogs, é preciso escrever um livro. Como naquele tempo dos diários. Mas com um olhar mais aguçado. E não venham me dizer que escritor de verdade não escreve diários. Todos nós os escrevemos, com mais ou com menos imparcialidade, com mais ou com menos disfarces e estratégias, mas todos querem mostrar-se através das palavras. A diferença entre ser amador ou profissional (ou bom ou ruim) está na maneira de como se faz isso. E não importa usar a primeira, a segunda ou a terceira pessoa. A alma de quem escreve está sempre lá, pairando entre os pronomes, entre os tempos verbais, nas entrelinhas.

Renata Bezerra

11 comentários:

  1. Verdade Renata. Escrever é compreender-se. É colocar no papel aquilo que está dentro de nós. Aquilo que faz a gente ser quem é. Escrever é ver-se através de palavras.

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  2. Pior é quando se chega aquele ponto em que nem vale à pena contar a vida.

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  3. Sou uma pessimista por natureza... E odiaria que alguém me disesse "tudo vale a pena". Verdade. Mas, felizmente ou infelizmente, consigo ver muita coisa até no nada. O vazio é nossa alma à procura de respostas. À procura de mudanças.

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  4. Renata, seja bem-vinda:um prazer ler-te agora e, com certeza, em futuras entrelinhas.Saludos,Ignacio

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  5. Eu gosto muito de escrever e gosto muito de ler. Há fases em que prefiro uma coisa a outra e vice-versa. Escrever me ensina a morrer e a viver, a aceitar os mortos e os vivos, equilibra-me sem destruir o precioso conflito e sua inquietação.

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  6. Lisarda, ando a pesquisar sobre a patafísica. Estou preparando um post sobre o assunto, bem resumido, é claro, porque sou iniciante entre os iniciantes.

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  7. Renata, vc. tem razão, a alma está na palavra.
    PS - Bípede se atrapalhou, postando seu comentário aqui, ou Renata e Lisarda são a mesma pessoa?

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  8. Janaina, Renata é Renata. Lisarda é Lisarda. É que como ele colocou um comentário aqui, lembrei-me de falar a ele que estou estudando a patafísica. Deixei um recado dentro de outro recado :)

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  9. Lindo Rê...só fui ver agora... Eu sei que tua alma está sempre lá... Em tudo que escreves... é como um espelho da tua alma... Nua e Crua... Para o Bem e para o Mal... e ao mesmo tempo tudo flui com uma suavidade incrível... que só tu és capaz de transfigurar na tua escrita, ao ponto de acharmos que te conhecemos de longa data, que crescemos juntas, que vivi cada dor contigo e cada felicidade também...Sinto quando escreves por desejo ou por necessidade de explodir no papel ou na tela do computador... Você é um livro, basta juntar tudo que já tens... quem sabe um livro de crónicas? Beijos Pri

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  10. Prisca querida, já o estou escrevendo... Quando chegar a mais de cem crônicas, sentirei-me satisfeita :)

    Obrigada por tuas palavras, que sempre são um bálsamo para mim.

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