Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Morre lentamente...
Pablo Neruda
Que me perdoe Neruda, maravilhoso poeta, mas sou obrigada a discordar. Lentamente morre quem escolhe a segunda opção, lentamente morremos todos, de quem ele fala, não morre lentamente, já está morfo há muito e à mingua.
ResponderExcluirDepois de um embate ciclópico com o computador e a intenet, eis-me aqui em condições de concordar com a Marie. Pronto. Concordei e, concordando, discordo de Neruda. Quem sou eu? Não estou nem para carteiro, muito menos para poeta, mas não se entristeça, é apenas um Papo cabeça.
ResponderExcluirPablo Neruda é uma inspiração...
ResponderExcluireu que não quero morrer lentamente...
quero morrer viva...
e pulsante...
beijo
Leca
Não conhecia este poema de Pablo Neruda ou pelo menos não me lembro de me ter feito tanto sentido como fez agora, obrigado pela partilha.
ResponderExcluirA poesia de Neruda é de se tirar o chapéu.
ResponderExcluirSendo bem sincera, morre lentamente quem não tem sorte. Porque morrer todo mundo está morrendo, mas aquela coisa que não se define e também não te deixa viver é a morte no pior sentido. Lembro nos diários do Márai, ele se queixando da lentidão da morte quando já se deveria estar morto. E lembro da minha mãe, com pouco mais de 50, queixando-se de como é difícil morrer quando não se tem mais outra saída e a porta insiste em ficar encostada.
ResponderExcluirAcredito que todos nós morremos de fato lentamente. Afinal de contas cada dia vivido (bem ou mal), é um dia a menos na nossa história. E definitivamente, se mata lentamente quem não busca e não valoriza na vida aquilo que é essencial. Viver sem sentindo é de fato ir se matando segundo a segundo.
ResponderExcluirGosto de muitos textos do Neruda. E este é um que gosto bastante.
Também gostei muitíssimo.
ResponderExcluirAmo a poesia de Neruda.
ResponderExcluirMas acho que morrer lentamente é horrível e acho mesmo como disse antes, que todos morremos lentamente de pendendo do ponto de vista.
Quase fiz uma piadinha.
Eu rezo pra quem quer que seja de responsabilidade, que minha morte seja rápida e pontual. Não digo, como disse o Woody, que gostaria de não estar lá quando ela chegar, mas até acho, que pelo meu perfil e história de vida, vou chegar atrasada ao seu encontro, tenho muita coisa para fazer pelo caminho. (Embora acredite realmente que ninguém atrasa ou adianta, se há um negócio que acontece na hora certa, é o encontro com esta senhora sombria na nossa fantasia.) Na verdade, não tenho pressa para morrer, e quero aprender a não ter pressa para viver também. Estudo isso todo dia e todo dia me digo, "que o melhor lugar do mundo, é aqui e agora."
De resto, poesia, vida vadia, tristeza ou alegria, nada é demasia.
Tudo depende do dia.
Beijo a todos