domingo, 28 de março de 2010

Esplanada


Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.

Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,
agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.

O café agora é um banco, tu professora de liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos por andar como dantes.

Manuel António Pina

[imagem: tenho imensa pena de não saber o seu autor]

9 comentários:

  1. [chega "uma idade", que já somos apenas inocentes quando sonhamos... como cantava o Bom Tom Waits]

    um imenso abraço, Marta

    Leonardo B.

    ResponderExcluir
  2. Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
    e não caminhos por andar como dantes.

    Marta nem sabes o sentido que este trecho me faz

    ResponderExcluir
  3. Adorei a "Esplanada"...
    crescimento...
    sonhos...
    e porque não respeito também...
    beijo

    ResponderExcluir
  4. Lindo, Marta! Gosto muito do Manuel António Pina, em todas as vertentes - além de poeta, é também um excelente cronista.

    ResponderExcluir
  5. Interpretei o poema com raiva, ritmado, musical... Gostei muito.

    ResponderExcluir
  6. Bípede, é dos poemas que mais sei :)

    Leonardo, isso mesmo :)

    Leca, e eu gostei que tivesses gostado :)

    Carlos, subscrevo cada palavra tua. MAP é dos contemporâneos geniais!

    Sílvia, ainda bem que foi sentida, essa leitura :)

    bjo & abraço

    ResponderExcluir
  7. Poema de desilusão.Um espectro que ensombra todos aqueles que amam ao longo do tempo.

    ResponderExcluir
  8. Como eu adoro esta imagem, acho que a vou surripiar.

    ResponderExcluir