Ela estava cansada, o imenso casarão era frio e trabalhoso. Sua única filha mimada e o marido despótico. O tédio era terminal e o arrependimento de ter se casado com ele visível. Embora fosse uma mulher na casa dos 30 anos e tivesse herdado uma quantia considerável, Vossa Excelência não permitia que ela fosse a qualquer lugar sem a sua presença e nem que dispusesse de seu dinheiro. O controle era doentio. Em uma ocasião, após ir ao cinema com a irmã, disse para o cunhado que ela somente entraria novamente naquela casa porque estava em sua companhia. Para superar as dificuldades agarrou-se a igreja. Deus iria lhe dar forças para superar a infelicidade e a monotonia. Não deu. Pelo contrário, as confissões ao padre passaram a lhe causar embaraço. Não sabia como demonstrar sua insatisfação, sem sentir-se envergonhada. Há muito sonhava com outros homens. Não podia mais nem ouvir a voz do marido. Ele também deu um jeito de afastá-la da sua família por inteiro. Brigou com todos, um a um. Para piorar as coisas, um dia, sem que fosse sequer consultada, o marido lhe informou que seu irmão viria morar com eles. Ela não pôde dizer nada. Ele jamais admitiria que uma ordem fosse questionada. Mandava e pronto. Resignada, ela preparou uma dos quartos do casarão para o cunhado. Embora modesto, ele era uma pessoa sensível e educada. Estava apenas precisando de ajuda pois o salário de funcionário público não era muito bom e havia sofrido uma grande decepção amorosa. Pelo menos essa foi a versão oficial contada aos amigos e parentes. Durante o primeiro mês nossa heroína, mesmo em casa, andava com roupas sóbrias e fechadas. Jamais atreveu-se a sair do quarto, sequer para pegar um copo d’água, sem que estivesse completamente vestida. Com o tempo a intimidade foi crescendo e com o cunhado começou uma amizade. Embora ele não tivesse a mesma posição social que o marido, era um homem com muitas qualidades. Seu corpo era bem feito, ele era simpático e mostrava-se sempre solícito a ajudá-la, o oposto do rabugento marido. Passou também a ser praticamente seu motorista, segurança e companheiro em todas as atividades externas, passeios com o cachorro, compras no supermercado, etc. A cumplicidade entre eles foi crescendo e o afeto também. Uma noite, após o jantar, ele se ofereceu para ajudá-la a lavar a louça. Foi quando acidentalmente suas mãos esbarraram pela primeira vez dentro da pia de água morna e cruzaram o olhar por quase um segundo. Desde então ela começara a sonhar com o cunhado. Nos seus sonhos vivia as mais loucas fantasias. Ela o amarrava na velha cama de ferro batido e o devorava por inteiro, tragando cada pedaço do seu corpo com força e violência. Ela o ebofeteava e o dominava. Tinha prazer em mordê-lo e queimá-lo com cera de vela. Gostava inclusive de penetrá-lo com seu dedo. Fazia com que ele sentisse muita dor antes de chegar ao prazer. Outras vezes ela sonhava que ele a possuía sobre a mesa da cozinha ou que por horas a acariciava somente com a língua e com a ponta dos dedos, para muito depois possuí-la. Quando tudo estava acabado ele dizia que a amava. Após seis meses nessa tesão ensandecida, ela estava decidida a tê-lo. Nesse ponto, o destino de nossa personagem poderia ter tomado diversos caminhos. Deixo para vocês apenas dois dentro dos diversos possíveis. No primeiro final, ela seduz o cunhado, e passa a ter com ele encontros furtivos durante a tarde. Depois, como não dava mais para segurar, passaram a se encontrar à noite mesmo. A configuração dessa relação como um casal ficou tão evidente durante os anos que seguiram, que os sobrinhos-netos e conhecidos pensavam que ela era casada com o cunhado. Mesmo após a empregada de longa data ter contado para marido que à noite nossa heroína ia para o quarto do cunhado, ele nada fez. Quando um dia, a filha mimada já adulta finalmente tomou coragem e disse para o pai que isso não poderia continuar, que era imoral, ele respondeu: “Nunca repita isso, sua mãe é muito braba”. Conviveram todos muito felizes nessa relação por cinquenta anos. Adotaram inclusive uma filha, registrada apenas pelo cunhado evidentemente. No velório do cunhado, uma sobrinha indiscreta lhe pergunta: “Titia, ele a amava?” Resposta: “Acho que sim.”. Acho esse final totalmente inverossímel, poderia um ser tão prepotente quanto Vossa Excelência concordar com isso por tantos anos? E um ser tão submisso ter dado essa volta por cima? Que estranho acordo concluíram aquelas três pessoas aparentemente tão felizes? No segundo final, nossa heroína vai para cima do cunhado, passa a assediá-lo. O pobre diabo sua bicas, diz que não poderia trair a confiança do irmão, que ainda estava preso ao antigo relacionamento e que por isso não se entregaria a nenhuma outra mulher. Como ela era determinada, ele foge acuado, evita ficar sozinho com ela em casa, até que muito constrangido lhe confessa que é apaixonado pelo jardineiro. Viveram então os três eternamente infelizes por muitos anos. O jardineiro chutou o cunhado logo depois.
Uma titia assim vive 100 anos fácil, fácil!!!
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ResponderExcluirUma terceira hipótese. A titia prepara uma sopa e coloca o famoso tempero que derruba até cavalo e os dois irmãos de braços dados vão para o céu. E ela resolve visitar o quarto da empregada, que lhe processa por assédio sexual.
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