quinta-feira, 25 de março de 2010

ISABELLA

“Resquiet in pace”, pequena,
pois aqui, pessoas em cubos,
invariavelmente empilhadas,
faces ocultas de luas mortas,
humilhantes, humilhadas,
orbitando idéias podres e tortas,
escondidas entre os muros,
no espetáculo deprimente
da mídia insana,
demente,
cumprimentam-se aos murros
posando de bacana,
vendem almoço para comprar janta,
em frente da televisão,
qual uma planície cheia de Anta,
estão com o prato cheio de sangue na mão.
“Resquiet in pace”,
pequena flor de jambolão.



Publicado originalmente em 23/04/2008    aqui

15 comentários:

  1. A mídia comete mesmo muitos excessos, mas não concordo nesse caso. Insanos foram os Nardoni. Insanos são os Nardoni que não sofrem por nada. Nem na hora da morte, nem depois, nem agora. E a Isabela está lá enterrada sem aprender a tabuada, sem assistir a Era do Gelo III no cinema, sem comer um McLanche Feliz, sem rodopiar nas aulas de balé, sem ir a casa das amiguinhas, sem nada. Ontem, vi no Happy Hour da Astrid o programa em que outros país de crianças brutalmente assassinadas foram falar. Não tem o que apague, amenize, dê a mínima trégua as esses corações partidos não apenas pela morte precoce de seus filhos, como pela forma brutal com que foram mortos. O terror de ser assassinado é também imperdoável. Para mim, os Nardoni estão sendo para lá de poupados com esse julgamento a portas fechadas.

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  2. Mortes, assassinatos e perversões sempre existiram; desde que o mundo é mundo e o Homem está nele. O que tornou esta e outras mortes mais atrozes do que outras antes delas? A mídiatização da tragédia. Sua revolta só existe por conta da Tv... pense nisso e assista menos TV. Me diga, sinceramente, o que esta Happy hour da Astrid acrescentou em sua vida?

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  3. Tarde, mas de jeito nenhum minha revolta existe por causa da TV. Minha revolta existe por causa da morte, porque uma criança foi brutalmente assassinada e isso também me diz respeito porque ela faz parte da minha espécie. Não é o fato de um crime estar sendo relatado na mídia que o torna grotesco. Todas as mortes ocorridas por causa de insanos são atrozes. Como no poema do John Done que diz que nenhum homem é uma ilha e a morte de um outro também me diminui. O que não devem é ficar escondidas, sendo tratadas como mais uma e pronto. Não concordo mesmo contigo. O Happy Hour, que há tempos não via, me disse muito ao mostrar que a realidade de quem perde um filho assim é da nossa conta também.

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  4. Pobre Isabella, pobre mãe da Isabella, pobres filhos com pais e sem pais.

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  5. Os repórteres que estão assistindo o julgamento do caso Nardoni estão a dizer que o pai, Alexandre, em seu depoimento tem respondido a maioria das perguntas com o típico "não me recordo".

    Definitivamente, essa não é uma boa tática de defesa. Mas, talvez, ele não tenha muito a dizer, além disso.

    Dizem que lágrimas escorreram do rosto dele e o promotor fez o seguinte comentário: "esse choro não tem lágrimas".

    O Juiz pediu para que os jurados desconsiderassem o comentário, pois inoportuno.

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  6. Caríssimos... é difícil de se ter um julgamento justo, com direito de defesa e tudo o mais se o povo em volta prefere linchamento. Linchamento é muito civilizado.

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  7. Isabella...
    é triste..mas é a realidade...
    crime...castigo...punição...linchamento...
    só queria que as pessoas se respeitassem mais...que respeitassem mais a vida...
    dificilmente saberemos o que realmente aconteceu com a menina...
    mas...uma coisa é fato...Isabella não é um caso isolado...muitas outras crianças morrem...em nosso país...
    Tomara que esse espetáculo todo sirva de alerta...de precaução...de reflexão...de mudança...
    meu lema agora é...
    Mais Amor...
    Por Favor...
    Beijo
    Leca

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  8. Leca, nesse país, cada um faz o que quer. O monstro que matou a filha da Glória Perez com dezoito tesouradas,uma jovem com então 22 anos, está livre, leve e solto. Assim, fica fácil ser bandido.

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  9. Ai meu Deus!! Não é livre, leve e solto! Cumpriu a pena: ponto final! Estado de Direito, meu Deus...

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  10. Pois é... cumpriu 1/3 da pena e está aí livre, leve e solto... e a Daniela, hein? Seis anos e pouco preso por ter matado a tesouradas uma jovem está de bom tamanho para você? Ai meu deus, digo eu!

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  11. EU não faço as Leis. QUem faz Lei é o poder legislativo...

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  12. Tarde, não tenho a mínima intenção de entrar em conflito contigo e nem com ninguém. Mas o fato do poder legislativo fazer as leis não o torna imune à dinâmica da sociedade e da civilização, principalmente, em um país como o nosso, em que a violência está banalizada e impune há gerações. Eu não concordo com uma lei simplesmente porque ela existe. Acato, sou uma pessoa bastante prudente e obediente, nem multa de trânsito levo, mas isso não significa a minha concordância moral com tudo. Esses casos de crimes com crueldade deveriam ser repensados. Não é a televisão, nem a mídia impressa quem nos conduz do mesmo modo que não deve ser o judiciário. Nenhuma obediência deve ser cega. Temos o direito de questionar o nosso Estado, a abrangência das nossas leis e a eficácia das mesmas. Para mim, é extremamente lamentável o Guilherme de Pádua estar solto, casado, vivendo enquanto a Daniela está morta e enterrada para o todo sempre. Anyway, não se aborreça por termos opiniões tão distintas sobre um tema de fato incômodo e polêmico. Talvez, eu espere demais deste país. Talvez, você espere de menos.

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  13. Estou gostando do debate. Este tipo de coisa é que faz a sociedade evoluir: debate. O debate, por seu turno, é feito de idéias, muitas das vezes antagônicas. A questão não é de subserviência ou não (à Lei ou ao Judiciário). A questão é filosófica. As sociedades evoluem na medida de uma série de convergências. Caso contrário estaríamos no Velho Oeste ou nos tempos da Colônia, em que todos andavam armados e alguns nem liberdade de ir e vir tinham. Assim caminha a humanidade. E neste caminhar abandonamos castigos corporais bem como a Lei de Talião. Não há mais (nem pode haver) o tal do olho por olho... Assim, temos um conjunto de leis que regem os ocmportamentos dentro da sociedade, até para que ela possa existir.
    Pois bem, caso não tenham reparado, o Código Penal (que é de 1940 e precisa evoluir, amoldar-se à realidade do Brasil 2000... e isto é outro debate, bem distinto)... O Código Penal não (sublinho: NÃO) proibe ninguém de matar. Prestem bem atenção: não é proibido matar, apenas diz lá: artigo 121 MATAR ALGUÉM... pena etc e tal. Portanto, há os chamados TIPOS PENAIS e uma vez que a pessoa se enquadra no TIPO ela é apenada e supõe-se que, uma vez cumprida a pena, a pessao volta a estar apta a viver em sociedade. É isso. Não é mais nem menos. É isso.
    Agora, se a sociedade se tornou violenta, por ausência do Estado, ou qualquer outro motivo. Se uma vida não vale mais que uma marmita, ou um Rolex, ou um celular, ou uma discussão Bêsta, um ciume, uma banalidade qualquer... talvez seja pq as pessoas não tem mais Deus no coração, perderam a bondade... não sei dizer (Não sou qualificado a tal ponto). Aliás, exatamente, só sei que o problema não é brasileiro... é humano.
    Essa questão me parece acima das nacionalidades, das regionalidades... pensar muito nisso me entristece. Eu coloquei filhos neste mundo e não sei se fiz bem. A par da minha postura egoista de achar ter filho uma coisa legal... pensando bem... não sei.

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  14. Detalhe: no Brasil, na Constituição Brasileira, não existe pena perpétua, nem pena de morte. Foi uma opção legislativa na conjuntura política de 1988. Outros tempos, outras influências. Talvez seja importante repensar isso. Bem como o consumo de drogas leves. Debates são sempre salutares.

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  15. Na Constituição Federal de 88 existe a pena de morte nos casos de guerra declarada.
    Bípede Falante.

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