Uns me chamam de Vieira, outros de Jobim, até de Carlos me chamam, mas meu nome pode ser António. António simplesmente. É difícil não, ser só António? Uma alma que fala deve ter nome, então, o meu é simples: António! - Simples, de muitas luas e estrelas, António.
Não sou desses anjos aí que protegem e desprotegem à vista desarmada, não pertenço a nenhuma brigada de bombeiros protectores de coração e vista, dia e noite. Não tenho clube no céu nem filhos na terra. Ando por aí, aterrando em qualquer árvore do lado de cá do mundo, na visão de passarinho que canta em qualquer fonte, de rico de pobre. Meu nome é António. Toda a gente procura seu anjo, mas não encontra, pois eles estão aí por todo o lado, aguardando toda a gente que não espera, amando eternamente todo o estranho, passeando por onde não alcança a vista. Mas meu dever não é de anjo, nem de bom nem de vilão. Meu emprego terreno não tem claras evidências, não tem ninguém para enganar, ninguém para proteger, nada de penas ou remorsos. Não tenho nome pomposo, mas apenas António. Toda a alma tem nome e número de identidade, toda a alma canta e ri e navega por aí, onde ninguém mais quer navegar. Está no outro e no lado de cá do mar, tal como anjo de nome pomposo, mas alma mesmo não tem dono e tem todo o tempo do mundo para sonhar, para rir ou chorar. Alma não tem trono, alma não tem dono. Tem ciclo de tempo, anda de cá para lá, disputando lugar seguro em coração desperto, tem direcção, caminho, mas não tem regra no Zodíaco, não tem regra de planeta ou de esfera celeste. Tem nome António, quanto basta para não ser nem ignorante nem ignorada. Alma é contente por conter o nada, alma navega por onde é preciso, por aqui por lá onde quer que o aqui seja. Alma é preguiçosa, precisamente! Anjo não aprende nada, alma não depreende nada; está tudo tão claro diante do olhar que até a vela se cega no breu. Claramente, dessa claridade adiante falarei. Juro, mas jurado não. Alma não jura; quando muito mente e desmente a escura escuridade. Alma é luz, anjo alumia. Alma acorda, anjo vela o sono do vagabundo. Alma dá de vida o que anjo cuida.
[…]
Março de 2009
[nota breve: este texto, guardado há algum tempo, nunca o editei em qualquer dos meus blogs. Assim, sem aquela pompa da própria palavra, é inédito… embora jure que não entendo por que se entende ressalvar assim, um breve texto; afinal não é mais que isso, para quem apenas procura umas palavras mais, para construir mais mundo. A imagem, foi trabalhada por mim, também, sobre uma popular imagem do Mestre Tom, em diversas texturas.]
Gostei do excerto :Alma não jura; quando muito mente e desmente a escura escuridade. Alma é luz, anjo alumia. Alma acorda, anjo vela o sono do vagabundo. Alma dá de vida o que anjo cuida.
ResponderExcluirGostei...
Meu Deus que coisa linda Léo.
ResponderExcluirGanhei a noite!
bjos
um imenso abraço, Leonardo. do tamanho do quanto gostei de te ler.
ResponderExcluirmais uma vez.
lindo ....gosteiii parabens ....
ResponderExcluirTraz Paz ...