segunda-feira, 15 de março de 2010

Vagner, Love?

Será que estou ficando louca? Será que o que me parece surreal é a realidade que tenho que engolir?


Eu sei que um esportista conhecido, aclamado, bem sucedido, deveria se preocupar com o exemplo a dar, com os locais que freqüenta, com sua imagem. Tudo isso é sabido e entendido. Se faz isso ou não é problema dele, o risco quem corre é ele, o prejuízo maior é dele, não vou deixar de dormir por isso.


Se ainda não adivinharam estou falando das últimas notícias sobre o jogador Vagner Love, freqüentador de bailes funk, onde os traficantes desfilam com armas de grosso calibre, de forma aberta, sem pudor ou medo.

“O jogador Vagner Love, atacante do Flamengo, deve ser convocado a prestar esclarecimentos à polícia, após ser flagrado em um baile funk na Rocinha escoltado por traficantes da favela.”

Não estou defendendo o comportamento do jogador, nem as suas justificativas, sua indiferença etc mas, acredito que a responsabilidade pelos ilícitos ali praticados não é do freqüentador e sim do Estado que permite que tal ocorra. A origem do crime não é presença de João ou Maria, mas a ausência do Estado.

A meu ver, não é Vagner Love que deve esclarecimentos, é o poder público que deve esclarecer à sociedade: como aquilo ocorre de forma tão aberta e cínica? Qual a origem daquele armamento pesado? Porque eles se sentem tão à vontade, circulando com bazucas capazes de destruir até mesmo o temível “caveirão”? Será que vamos ter de esperar calmamente o dia em que todo aquele armamento esteja apontado para a nossa cabeça? Para onde vão os impostos que deveriam garantir a nossa segurança? Até quando aguardaremos respostas?

4 comentários:

  1. Querida, aquilo é um estado (Estado) de beligerância tal que, ao meu ver, se trata de Guerra Civil não declarada. Ao menos desde o governo do Sr Leonel. O resto é lenda, coisas da carochinha.
    Quanto ao jogador, temo que estás a dar muito cartaz e miolo a quem não o tem (miolo). Mas...

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  2. Quem está dando cartaz ao jogador é a mídia. O que me incomoda é justamente essa posição de achar que é assim mesmo, não há nada que possa ser feito. Essa indiferença da sociedade, essa manipulação da mídia é que realmente incomoda. Será que temos que acreditar e aceitar que (clichê dos clichês) "cada povo tem o governo que merece"? Enquanto nos encastelamos nos condomínios de luxo, ou achamos que a periferia não vai chegar ao asfalto, eles estão cada vez mais poderosos e um dia essa bomba vai explodir. E talvez exploda na mão de nossos filhos. Eu quero, ao menos, ter o direito de me indignar com quem acha (a mídia e os que a controlam) que somos burros, manipuláveis e incompetentes. Que devemos olhar para Vagner Love em vez de enxergar a "guerra civil não declarada" e em ebulição há poucos metros de nossas casas e famílias, cujas balas, perdidas ou não, matam a cada instante inocentes de todas as camadas sociais. Minha intenção, não é abrir um debate, eu só quis desabafar e talvez tenha escolhido o meio errado. Me desculpem. Quando falo da indiferença da sociedade, não me excluo. Eu tenho medo, mas no conforto e "segurança" do meu apartamento, também me escondo, esperando que algum milagre aconteça.

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  3. Lucia, gostei do post e acho que este espaço aqui também deve debater essas questões que são nossas. A solução para o problema é fazer o Estado exercer sua soberania nas favelas, dando educação, saúde e poder de policia. A Colômbia tem problema igual e parece que vem solucionando razoavelmente essas questões. Quanto ao Vagner Love? é só olhar os seus olhinhos.

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  4. Carlos, eu tento fazer a minha parte. Dou exemplo e educação a minha filha. Voto conscientemente. E torço para que todos façam a mesma coisa. Se a nossa geração está perdida, quem sabe a próxima... Apesar disso, me entristeço com a falta de cortesia das pessoas, com a falta de respeito aos direitos do cidadão e do consumidor, com a indiferença, com a falta de cuidado com o meio ambiente e por aí vai...

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