quinta-feira, 4 de março de 2010
O Horror de Conhecer
Confesso -- assim tem sido minha vida ultimamente -- que tenho horror de conhecer. Já disse ontem aqui mesmo que sou o covarde que ataca pelas costas, que não quer abrir o envelope do exame médico, que estou cercado por medos líquidos, sólidos e gasosos. Um dia retirei da prateleira um livro do Pessoa. E foi ele o grande culpado por toda essa fobia. Tudo começou quando comecei a ler este poema aqui que fala sobre o inexplicável horror de saber que esta vida é verdadeira. Eu imaginava que eu era o centro do mundo, que ele girava exclusivamente sobre minha pessoa e que os outros (vocês) eram apenas personagens coadjuvantes da minha existência. Vivia calmo, feliz e comigo mesmo. Nada mais importava, a vida era simplesmente deslumbrante. Eu era o próprio Show de Truman. Eu era o Truman. Mas tudo isso acabou, foi para o espaço, fez puf, a incompreensão tomou conta de tudo, quando li a terceira parte do poema que assim diz:
Por que pois buscar
Sistemas vãos de vãs filosofias,
Religiões, seitas, [voz de pensadores],
Se o erro é condição da nossa vida,
A única certeza da existência?
Assim cheguei a isto: tudo é erro,
Da verdade há apenas uma idéia
A qual não corresponde realidade.
Crer é morrer; pensar é duvidar;
A crença é o sono e o sonho do intelecto
Cansado, exausto, que a sonhar obtém
Efeitos lúcidos do engano fácil
Que antepôs a si mesmo, mais sentido,
Mais [visto] que o usual do seu pensar.
A fé é isto: o pensamento
A querer enganar-se-eternamente
Fraco no engano, [e assim] no desengano;
Quer na ilusão, quer na desilusão.
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É por isso que, assim como a minha mãe, gosto muito do sonho impossível...
ResponderExcluir"Tudo é vaidade..." já dizia Salomão
ResponderExcluire que reflexão, Carlos. que reflexão.
ResponderExcluirMaia, sabe, a pouco, enquanto dirigia vindo para cá, me dei conta de que não é um horror se conhecer quando a gente descobre que é muito melhor do que se imaginava. Eu me julgava pior do que sou antes de me entregar a mim mesma.
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