Passou um mês desde que fui ver Invictus, o novo filme de Clint Eastwood, mas ainda não consegui escrever o que quer que fosse. Para ser muito sincero, nem sei se o filme é bom ou mau, embora Eastwood tenha comigo créditos suficientes como realizador para eu arriscar escrever que é um excelente filme. Mas, o motivo pelo qual não sei se o filme, objectivamente, é bom ou mau prende-se com o homem que nele é retratado: Nelson Mandela. Nelson Mandela é um dos gigantes do nosso tempo, arriscaria mesmo dizer O gigante do nosso tempo, pelo que se torna difícil ver o filme (e o homem) de forma distanciada. A humanidade, a grandeza moral, a ética, o bom senso e a ousadia deste homem excepcional entraram-me pelos olhos dentro, e não consigo saber se o que eu sabia sobre ele antes de ver o filme teve ou não influência. Sei apenas, e isso não é pouco, que fiquei comovido – genuinamente comovido - como há muito não me acontecia no cinema.
Mandela é a prova viva – felizmente bem viva – de que a acção política, mesmo em momentos difíceis, pode pautar-se por padrões éticos elevadíssimos. Serão porventura esses, aliás, os únicos que permitem ultrapassar os obstáculos que nos separam de uma convivência genuinamente sã e pacífica.Mas, voltando ao filme, Nelson Mandela cita algumas vezes os dois últimos versos de um magnífico poema do século XIX: Invictus, de William Ernest Henley. Deixo aqui o poema na integra, certo de que nada poderia descrever de forma mais exacta o percurso de um homem que já tem o seu lugar na história:
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
Carlos,
ResponderExcluirainda não vi. [aliás, no último mês tenho tido alguma dificuldade em existir] vou ver se vejo esta semana. sem falta.
mas adorei ler-te aqui.
Você realmente encontrou o ponto. Porém, na minha opinião, o filme não vale um níquel sequer. Cheio de clichês, um estupro cerebral, uma agressão à inteligência do espectador. Mas talvez, apenas e tão somente, por ser impossível resumir mandela, muito menos em duas horas, ou hora e meia, ou trezentas páginas. Whatever...
ResponderExcluirNão vi o filme. Perdi todas os bilhetes de entrada. De vez em quando, encontro um solto na bolsa e aí me sento e aplaudo. O do Invictus segue em algum lugar desconhecido. Algo me diz para não insistir na procura. Vale mais ficar com o poema. No poema não tem engano!
ResponderExcluirTambém não vi o filme. A grandeza de Mandela está exatamente na forma como ele faz política, sem rancores e ressentimentos.
ResponderExcluirMarta, muito obrigado. Agora somos duplamente colegas! :-)
ResponderExcluirTarde, antes de mais, obrigado pelo comentário na outra casa. Bem, Mandela não é resumível - é um gigante, uma daquelas pessoas de quem se diz "larger than life".
Bípede Falante, o poema, que descobri graças ao filme, é das coisas mais fortes que já li. (Posso tratar-te pelo teu nome ou preferes Bipede Falante?)
Carlos Eduardo, Mandela é, simplesmente, um exemplo ético e moral - ou deveria dizer "o"?
Abraços.
Carlos, por aqui, não passo de uma bípede :)
ResponderExcluirAssisti o filme como amante e jogador de Rugby. Achei ele muito bem filmado, com uma enfase elgal para o jogo =D, mas mostrou bem como o Mandela é, humano e com seus problemas pessoais. Gostei do filme.
ResponderExcluirIsso, Arthur: apesar da grandeza, os problemas pessoais não são escamoteados. Afinal, Mandela é humano; um humano excepcional.
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