segunda-feira, 1 de março de 2010

Continuando...(13)


Viu-a partir a galope sem olhar para trás.
Um arrepio gélido lembrou-o que estava nu. Vestiu-se devagar, numa lentidão de gestos pesados pela tristeza que tomava conta de si.
O instante em que se despediam era sempre doloroso.
O segredo sufocava-o quase tanto como o receio de serem descobertos mas, normalmente, despediam-se entre beijos e abraços de afecto e calor.
“Até já.”
Dizia ela quando saía e voltava-se sempre para trás, para um derradeiro olhar.
“Até já.”
Respondia ele, e não se mexia até deixar de a ver.
Naquela manhã, porém, tinha sido tudo diferente. Desde a sofreguidão com que se amaram, até aquela discussão disparatada e à saída abrupta dela, tudo tinha o premonitório sabor de ameaça e despedida.
Tinha tanto para lhe contar e, afinal, ficou tudo por dizer.
A revolução já pairava no ar. A conspiração pressentia-se em todo o lugar. Nos quartéis as divisões estavam cada vez mais evidentes e ele sabia que, mais cedo do que desejava, teria de se revelar.
Há muito tempo que tinha tomado a sua decisão. Sabia por quem iria erguer as armas, talvez até morrer, mas era esse o seu compromisso de honra, era esse o seu dever, dar a vida se preciso fosse para defender a causa.
E o General? Quando ele descobrisse no que andava metido, porque não tinha a mínima duvida, ele ia saber de tudo e fazê-lo pagar bem caro.
Pela política talvez o atirasse para apodrecer em África mas, quando descobrisse que era amante dela, aí, nem África lhe valeria, seria um homem morto…
Dobrou a manta.
De olhos fechados, mergulhou o rosto na lã macia, só para sentir um pouco mais do cheiro de amar.



(continua)

Um comentário:

  1. Apple, já decidi! Vou começar a imprimir para ler. Esse texto conto/novela merece uma edição, um papel, maior toque. Depois, você dá um jeito de autografar, porque eu gosto de dedicatórias :)

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