"O filme, As Horas, baseia-se no livro de Michael Cunningham, que, por sua vez, se inspirou no romance “Mrs. Dalloway” de Virginia Woolf. O enredo trata da história de três mulheres que carregam em suas vidas muitos sentimentos em comum, como a insatisfação e o fracasso.
São retratos de vidas em épocas diferentes, que se entrelaçam através de um livro, “Mrs. Dalloway”. É um filme de alma feminina, onde, nos artifícios da trama, outras mulheres se reconhecem no drama existencial de cada uma das personagens, humanizando assim o lado da ficção. Uma mulher que gostaria de ser uma personagem de um romance, uma que o escreve (a própria Virgínia Woolf), outra que o vive.
Acompanhamos, dessa forma, um dia na vida dessas três mulheres. São três histórias em espaços temporais distintos, mas intercaladas na narrativa. Virginia Woolf é a escritora do livro, que afastada da vida agitada de Londres por seu marido, a conselho médico, percebe-se a cada dia, mais infeliz e amargurada. A mesma, é retratada na altura em que escreve o livro em questão, onde seus conflitos internos são repassados para a obra, inclusive o suicídio. A segunda mulher é Laura, dona de casa, esposa e mãe. Laura encontra-se desesperada dentro de um casamento onde os sentimentos são artificiais, pois embora viva num ambiente de tranqüilidade e aparente felicidade, se sente vazia e cogita a morte para escapar da realidade da sua vida medíocre; ela está a ler o livro de Virgínia Woolf, o qual reforça sua idéia de evasão e suicídio. A terceira é Clarissa, uma bem sucedida editora, mulher cosmopolita do século XXI, vive um relacionamento lésbico de longa data e se identifica paradoxalmente com Mrs. Dalloway. Tudo o que Clarissa deseja no momento é que sua festa em comemoraçaõ a atribuição de um importante prémio à obra poética de Richard, seu melhor amigo e ex-amante dê certo. Richard encontra-se debilitado pela AIDS e vive fechado em um apartamento frio e sujo. No meio dos preparativos, Clarissa pressente o vazio daquela arrumação fútil e o peso das horas.
Uma das cenas iniciais do filme mostra as três mulheres se levantando ao amanhecer, concomitantemente, quando Virgínia escreve, Laura lê e Clarissa fala a mesma frase: “acho que eu mesma vou comprar as flores”, e uma outra cena onde vemos o suicídio de Virgínia, retratado de forma simbólica, mas muito forte. Com isso, percebemos que “cria-se logo no início da narrativa de Woolf, um paralelismo entre Celebração e desencanto, festa e morte” (AZEREDO, 2004, p. 30).
O desespero das três mulheres vai crescendo com o passar das horas, horas sempre iguais, horas sem nenhuma esperança de mudança, sem nenhuma ansiedade, só a ansiedade provocada pelo nada. Solidão, infelicidade, doença, identidade e realização sexual (nas três tramas as personagens beijam outra mulher na boca), e principalmente a morte.
As lutas e sofrimentos vivenciados pelas três mulheres são universais. As horas... os momentos... as decisões que tomamos. Talvez nos encontremos nas situações extremas de cada uma das personagens; cada uma delas lutando para dar um sentido à suas existências e ser simplesmente feliz. Três mulheres presas no tempo e no espaço, nos seus próprios espaços, nas suas vidas. Ao ser levantado o tema da morte, das escolhas, da sexualidade, das decisões, vemos que as personagens descobrem que nem sempre a vida é aquela que esperamos, nem sempre as horas são diferentes. O que são essas horas até perceberem que as perderam para sempre?
A emoção limite, que nos leva a tomar decisões e fazer escolhas que modificam a nossa vida para sempre".
texto de Gladys Ferreira em: http://recantodasletras.uol.com.br/resenhasdefilmes/447269
Sou suspeita...adoro Virginia Woolf...suas letras são fascinantes...
ResponderExcluirO fime "As Horas"...faz um recorte de parte de sua vida...e acho fantástico saber como uma obra de arte...um personagem...transforma as vidas dos leitores...O feilme é muito bom...
Bom final de semana
Beijo
Leca
Fiquei louco para ver esse filme.
ResponderExcluirÉ mesmo um filme impactante, com uma trilha sonoroa arrasadora, mas, como eu já disse antes, triste. Um talento aniquilado junto com a própria existência é algo sério a se lamentar.
ResponderExcluirE na verdade, não sei se desculpo a Virginia por ter se matado.
ResponderExcluirQuerida Bípede... as suicídas sempre são mais fascinantes. Só não sei pq. Mas pegue Ana Cristina César, Florbela, Silvia Plath, e por ai vai... e só citei três... tem muito mais. Será que se continuassem a viver teriam produzido a contento ou a depressão as teria tornado inúteis parasitas incapazes. Há que se considerar esta hipótese. Nem sempre o mundo seria às mil maravilhas de uma produção crescente em qualidade e quantidade. pense nisso.
ResponderExcluirAmei o livro e o filme.
ResponderExcluirVi o filme. Saí do cinema extasiado, arrebatado pela história daquelas três mulheres. Dois dias depois, voltei para rever o filme e uma semana depois, li o livro de uma sentada só.
ResponderExcluirTARDE, obrigado pela visita ao meu blog.