sábado, 13 de março de 2010

AS HORAS

"O filme, As Horas, baseia-se no livro de Michael Cunningham, que, por sua vez, se inspirou no romance “Mrs. Dalloway” de Virginia Woolf. O enredo trata da história de três mulheres que carregam em suas vidas muitos sentimentos em comum, como a insatisfação e o fracasso.

São retratos de vidas em épocas diferentes, que se entrelaçam através de um livro, “Mrs. Dalloway”. É um filme de alma feminina, onde, nos artifícios da trama, outras mulheres se reconhecem no drama existencial de cada uma das personagens, humanizando assim o lado da ficção. Uma mulher que gostaria de ser uma personagem de um romance, uma que o escreve (a própria Virgínia Woolf), outra que o vive.

Acompanhamos, dessa forma, um dia na vida dessas três mulheres. São três histórias em espaços temporais distintos, mas intercaladas na narrativa. Virginia Woolf é a escritora do livro, que afastada da vida agitada de Londres por seu marido, a conselho médico, percebe-se a cada dia, mais infeliz e amargurada. A mesma, é retratada na altura em que escreve o livro em questão, onde seus conflitos internos são repassados para a obra, inclusive o suicídio. A segunda mulher é Laura, dona de casa, esposa e mãe. Laura encontra-se desesperada dentro de um casamento onde os sentimentos são artificiais, pois embora viva num ambiente de tranqüilidade e aparente felicidade, se sente vazia e cogita a morte para escapar da realidade da sua vida medíocre; ela está a ler o livro de Virgínia Woolf, o qual reforça sua idéia de evasão e suicídio. A terceira é Clarissa, uma bem sucedida editora, mulher cosmopolita do século XXI, vive um relacionamento lésbico de longa data e se identifica paradoxalmente com Mrs. Dalloway. Tudo o que Clarissa deseja no momento é que sua festa em comemoraçaõ a atribuição de um importante prémio à obra poética de Richard, seu melhor amigo e ex-amante dê certo. Richard encontra-se debilitado pela AIDS e vive fechado em um apartamento frio e sujo. No meio dos preparativos, Clarissa pressente o vazio daquela arrumação fútil e o peso das horas.

Uma das cenas iniciais do filme mostra as três mulheres se levantando ao amanhecer, concomitantemente, quando Virgínia escreve, Laura lê e Clarissa fala a mesma frase: “acho que eu mesma vou comprar as flores”, e uma outra cena onde vemos o suicídio de Virgínia, retratado de forma simbólica, mas muito forte. Com isso, percebemos que “cria-se logo no início da narrativa de Woolf, um paralelismo entre Celebração e desencanto, festa e morte” (AZEREDO, 2004, p. 30).

O desespero das três mulheres vai crescendo com o passar das horas, horas sempre iguais, horas sem nenhuma esperança de mudança, sem nenhuma ansiedade, só a ansiedade provocada pelo nada. Solidão, infelicidade, doença, identidade e realização sexual (nas três tramas as personagens beijam outra mulher na boca), e principalmente a morte.

As lutas e sofrimentos vivenciados pelas três mulheres são universais. As horas... os momentos... as decisões que tomamos. Talvez nos encontremos nas situações extremas de cada uma das personagens; cada uma delas lutando para dar um sentido à suas existências e ser simplesmente feliz. Três mulheres presas no tempo e no espaço, nos seus próprios espaços, nas suas vidas. Ao ser levantado o tema da morte, das escolhas, da sexualidade, das decisões, vemos que as personagens descobrem que nem sempre a vida é aquela que esperamos, nem sempre as horas são diferentes. O que são essas horas até perceberem que as perderam para sempre?

A emoção limite, que nos leva a tomar decisões e fazer escolhas que modificam a nossa vida para sempre".

texto de Gladys Ferreira em: http://recantodasletras.uol.com.br/resenhasdefilmes/447269 

7 comentários:

  1. Sou suspeita...adoro Virginia Woolf...suas letras são fascinantes...
    O fime "As Horas"...faz um recorte de parte de sua vida...e acho fantástico saber como uma obra de arte...um personagem...transforma as vidas dos leitores...O feilme é muito bom...
    Bom final de semana
    Beijo
    Leca

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  2. É mesmo um filme impactante, com uma trilha sonoroa arrasadora, mas, como eu já disse antes, triste. Um talento aniquilado junto com a própria existência é algo sério a se lamentar.

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  3. E na verdade, não sei se desculpo a Virginia por ter se matado.

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  4. Querida Bípede... as suicídas sempre são mais fascinantes. Só não sei pq. Mas pegue Ana Cristina César, Florbela, Silvia Plath, e por ai vai... e só citei três... tem muito mais. Será que se continuassem a viver teriam produzido a contento ou a depressão as teria tornado inúteis parasitas incapazes. Há que se considerar esta hipótese. Nem sempre o mundo seria às mil maravilhas de uma produção crescente em qualidade e quantidade. pense nisso.

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  5. Vi o filme. Saí do cinema extasiado, arrebatado pela história daquelas três mulheres. Dois dias depois, voltei para rever o filme e uma semana depois, li o livro de uma sentada só.

    TARDE, obrigado pela visita ao meu blog.

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