Assim como nos passaportes, nossos corpos retornam de uma viagem carimbados de experiências que se mantêm e determinam nossos olhares, sensações, percepções, a partir do acesso a territórios desconhecidos, principalmente aos territórios internos que nos ressignificam. Ao chegarmos a algum lugar chegamos carregados de passado, de experiências adquiridas durante toda a vida e até mais, trazemos nossos antepassados, histórias de família, dos lugares passados. Nos pés ficam os calos e o pó da terra por onde caminhamos. Na mente ficam registradas as imagens, os odores, os sons, as histórias que encontramos em cada esquina, em cada rua, casa, monumento, pessoa. Ao retornarmos (porque sempre se retorna), aquele lugar visitado, introduzido, apropriado, nos segue e acompanha em outras freguesias. Uma viagem que independe de quilometragem, distância. Seja na França, São Paulo, Santo Amaro ou simplesmente ali na esquina. A todo o momento somos preenchidos de outro. Um outro que desconhecemos, mas que nos afeta. Informações que absorvemos e vão sendo traduzidas corporalmente na postura, no modo de andar, comer, falar, gesticular, enfim, no nosso modo de agir.
O espetáculo ODETE, TRAGA MEUS MORTOS é inspirado numa situação vivida por mim, em viagem a França, onde num almoço em casa de uma família tradicional, na hora do café, depois de todo ritual da refeição francesa, a matriarca pede a empregada: “Odete traga meus mortos!”. Incrédulo, com expressão assustada, fui informado que este pedido tornou-se habitual daquela senhora que lê diariamente a parte de óbitos do jornal enquanto toma seu cafezinho. Sua preocupação é saber se algum conhecido faleceu e observar a forma como foi escrito o obituário, sempre discordando e dizendo que não quer o seu daquele jeito, então começa a descrever como gostaria que divulgassem sua morte, a foto que deve ser colocada, a roupa e como as pessoas devem agir no seu funeral.
Um fato aparentemente triste torna-se o momento mais engraçado do dia da família que passa a lembrar de histórias da vida e de pessoas que passaram por ali. A morte perde a carga de sofrimento, cedendo espaço para lembranças de vidas cheias de experiências, como são todas as vidas
Odete, traga meus mortos – 09, 10, 11, 16, 17 e 18/04 (sextas 20h, sábados e domingos 18h), no Cabaré dos Novos do Teatro Vila Velha. Espetáculo vencedor do Prêmio Festival Vivadança 2010. Com Edu O. e Lucas Valentim. R$ 10,00 (inteira)
Campanha da caneca - leve uma caneca (velha, usada, com muita história) para tomar o chá de Odete e pague meia entrada. Pode levar ao Vila durante a semana para garantir os ingressos ou na hora entregar na bilheteria
Eu adoraria assistir este espetáculo. Tenho certeza de que será emocionante.
ResponderExcluirAdoro te encontrar aqui também, Edu.
ResponderExcluirExpressão fabulosa assim como o facto de pegar nela e dar-lhe "vida".
ResponderExcluirPor aqui é comum esse hábito (característico a partir de uma certa idade), de perscrutar a página dos finados (e quem já não ouviu todas essas recomendações?). Muito interessante.
O título do espetáculo já é incrível! Imaginem o espetáculo mesmo?!
ResponderExcluirEdu, quando tiver imagens, coloque um pouco no Youtube para as gentes do sul poderem ver, tá??
Uma tía minha, quando eu era menino e le pedía o jornal para ler, me respondera "Um segundo, quero olhar as crucecitas". E leía minuciosamente os obituarios, como uma parte obrigatoria da sociabilidade.
ResponderExcluironde é esse teatro?
ResponderExcluirBoa estreia!
ResponderExcluirEu vou!
ResponderExcluirA estréia foi linda! Assim que tiver um vídeo coloco no youtube e informo a todos. Obrigado pelas palavras.
ResponderExcluirO Teatro Vila Velha fica no Passei Público de Salvador.