sábado, 8 de maio de 2010

Tadinho do Boris

What's up, Boris?

Será que Tudo Pode Dar Certo Ou É Assim Que "As Coisas" Funcionam?


Ele é chato, ele é "um porre", mas ele é inteligente e diz certas verdades, ele sempre está contra tudo, ele sempre "sabe das coisas", porque ele tem QI 200.
Boris Yellnikoff é criatura de Woody Allen e personagem central do "Tudo pode dar certo (whatever works)" que marca a volta de Allen a Nova York. Boris (Larry David da série Seinfeld) -- que poderia muito bem ser interpretado por Allen - é cheio de manias. Ele sempre está sendo perseguido, ele tem síndrome do pânico, ele consegue até perceber que está sendo filmado. Boris não espera e nem recomenda que as pessoas ao seu redor - e que ele amarga e criticamente convive - modifiquem suas vidinhas burras e básicas. Surpreendentemente, as pessoas, certas pessoas, mudam e isso pode dar certo. E a senhora de meia idade, casada e religiosa, abandonada pelo marido deixa sua vida caipira no Mississipi para viver um ménage à trois e ser artista em Nova York. E seu arrependido marido quer voltar e recebe um sólido não. Aborrecido, triste e abandonado ele toma um porre e conhece sua verdadeira paixão: ele assume que é gay.

Será que assim as pessoas serão mais felizes? Juro por Deus que não sei.

Moral da história: Woody Allen é um dos grandes gênios da nossa época.

Clique abaixo para ler o artigo de José Pedro Goulart sobre o filme.



Qualquer coisa

Escolha aí: jogar baralho, correr, andar de patins, comer, cuidar dos filhos, cozinhar, ter amantes, olhar o céu com um telescópio, fazer sexo três vezes ao dia, dançar, pular, escrever um diário, conversar, fuçar na internet, viajar, beber, fumar, ler, aprender, dormir. Ou tirar meleca do nariz, espremer as espinhas das costas do namorado. Enfim, qualquer coisa que funcione.
A constatação do último Woody Allen é dramaticamente simples: a felicidade está em contemporizar. Contemporizar com as coisas que nos dão prazer, desde que sejam lícitas. Simples? O drama é que isso coloca na lata de lixo um percentual altíssimo do produto das inquietações humanas até aqui.
Chegamos ao século 21 passando pelo domínio do fogo, das armas e de muitas vacinas. Visitamos uma lua árida e isso só confirmou as suspeitas de estarmos sós na vizinhança. Há milênios as religiões tentam confirmar suas teses – algumas até que bem encadeadas –, mas fora da teoria, neca. As mais recentes conquistas tecnológicas como a internet encurtam a distância de tal maneira que só aumentam a claustrofobia.
Até quando durará a humanidade agregando conhecimento – há um novo Nobel a cada ano – enquanto joga um jogo sem saber as regras, mas que sempre termina com o jogador previsivelmente derrotado? Podemos espernear, reclamar, praguejar, rogar aos céus, podemos julgar, explicar ou condenar, isso não muda nada.
Woody Allen produziu uma vasta obras sobre estas questões. A maioria das vezes com humor. Algumas falou a sério, mas no fim de tudo sempre carregou na ironia e na autodepreciação; riu de suas obsessões, seus traumas, neuroses – riu do ser humano que é. Existe outra maneira?
Cuidado com os pregadores – cuidado com os conhecedores, espumava Bukowski no meio de um poema atravessado. E também cuidado com os esnobes eruditos, ou os presunçosos do lugar-comum. Quem haverá de dizer “o” que pode dar certo?
Tudo Pode Dar Certo (ou a tradução do título original, “Qualquer coisa que funcione”) é um filme de um autor que “sabe” que “não sabe”. Não há receita. Não há um verdade a ser revelada. O que há é uma suspeita de que o acaso e a surpresa são mais importantes do que imaginamos. E a paixão, a única contribuição que nós podemos atribuir a qualquer coisa que funcione. Simples. Ou não?

5 comentários:

  1. excepcional!! Além de não perder... acredito que na primeira oportunidade o lance é ter, para poder sempre rever.

    ResponderExcluir
  2. Maia, fiquei bastante desapontada com o filme.

    ResponderExcluir
  3. Eu adorei, como adoro todos os Filmes do W. Allen, tenho quase todos... Nada é o que aparenta ser... Óptimo texto!!!!

    ResponderExcluir
  4. Eu gostei do filme e acho que Woody anda em sua melhor fase. Ele é um gênio.

    ResponderExcluir
  5. Eu gostei do filme, mas não como havia gostado do Match point, o melhor filme dele na minha opinião. Ri bastante porque o roteiro é divertido e sarcástico como sempre são os seus filmes, mas achei déjà vu. Discutiu novamente a relevância da sorte na existência, aliás, defendeu a sorte, e, sinceramente, apesar de todo o charme e argumentação a favor, não estou de todo convencida de que essa senhora exista.

    ResponderExcluir