terça-feira, 18 de maio de 2010

UM DIA E UM POEMA

Gerana Damulakis

Meu primeiro choque com a literatura foi com os versos de Manuel Bandeira. Sim, foi um choque. Habituada aos livros porque a biblioteca da minha casa era enorme e livros eram objeto de conversas cotidianas, eu já andava com fumaças de leitora desde a tenra idade de 7 anos, mas aquela coisa que me deixou estupefata e cuja sensação ainda guardo comigo, esta foi causada pelos versos de Bandeira. Queria muito saber qual era o poema. Lembro da sala de aula, lembro da carteira escolar, lembro do livro de gramática da língua portuguesa, lembro que estava folheando e parei naquele poema e tomei um choque e entendi. Cada vez que leio a poesia de Bandeira (e leio sempre, pois que me faz falta se levo algum tempo longe dos seus livros), penso se estou lendo justamente aquele poema. Nunca saberei qual foi, já que são tantos os versos, as estrofes, os poemas de Manuel Bandeira que amo.
Minha memória está repleta de versos próprios para cada momento. Agora, sei que nunca terei a certeza de qual poema me fez mergulhar sem volta para o mundo da poesia. O que me resta? Como escreveu Bandeira:
"A única coisa a fazer é tocar um tango argentino".

5 comentários:

  1. A memória trai, Gerana, a alma nunca. Importa que você foi e que não houve caminho de volta: que bom, ganhamos nós e agradecemos, com reverência, a Bandeira!

    Beijos,
    Tânia

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  2. "Eu faço versos como quem chora
    De desalento... de desencanto...
    Fecha o meu livro, se por agora
    Não tens motivo nenhum de pranto.

    Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
    Tristeza esparsa... remorso vão...
    Dói-me nas veias. Amargo e quente,
    Cai, gota a gota, do coração.

    E nestes versos de angústia rouca
    Assim dos lábios a vida corre,
    Deixando um acre sabor na boca.

    - Eu faço versos como quem morre."

    Na primeira vez em que li esse poema, pensei: será que existe sofrimento assim, quase irreal? Hoje, Desencanto é quase uma definição de mim mesma...

    Abraço.

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  3. O meu choque foi lendo A chave do tamanho. Dali para frente, os livros ganharam um espaço mágico e de zelo em mim.

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  4. Os livros são o nosso bilhete de viagem para mundos muitas vezes nem sequer suspeitados. Também tenho alguns companheiros assim de que não prescindo.
    Com eles viajo repetidamente para lugares inalcançáveis de outro modo.
    Beijos
    Henrique

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  5. nem tudo se perde quando...
    "a única coisa a fazer é tocar um tango Argentino"...
    memória e alma renascem.

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