quinta-feira, 20 de maio de 2010

Diários II

São histórias por começar… gente que se volta a sentar ao nosso lado nas filas de trânsito e nas noites de insónia. São fantasmas de vivos que andam por aí, nas ruas das cidades, e que nos ficam em postais vindos de longe, em bilhetes de avião gastos, em dobras de um livro ao qual não voltamos porque…o vinco da décima quinta página foi dobrado pelos dois e queremos que a história fique lá.
São histórias por começar: uma noite de Agosto no terraço de um hotel de Lisboa. O que faz uma mulher aos vinte e três anos com uma ilusão? Guarda-a entre os botões da blusa candidamente insinuante e volta para a casa da mãe, cheia de sonhos e de medos.
Um barco entre duas ilhas, algures num mar da Europa; um jantar à luz das estrelas numa cidade de barcos; uma viagem de autocarro para dentro de um país ainda cheio dos restos de uma guerra. Duas línguas e dois continentes. Dois países. O que faz uma mulher aos vinte e nove anos? Racionaliza e volta para casa. Despega-se a acobarda.
Histórias por começar.
Gente que, nos dias lassos, se senta connosco à mesa de jantar, nos segue para o quarto, nos revolta o sono, nos consome no trânsito.
Histórias por começar que nos ficam debaixo da pele.

3 comentários:

  1. Uma mulher, ou um homem, tanto faz, aos 29 anos ou aos 70, não deve deixar histórias por começar.
    A vida é para ser sugada até à última gota.
    Na hora de subir, vai ficar um travo amrgo por aquilo que não se fez, seja bom ou mau.
    Abraços
    GED

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  2. Ah, este belo texto em português castiço me faz lembrar tantas coisas. As histórias de ( e do ) amor são todas muito parecidas, apenas variam em suas nuanças.

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  3. Essa danada razão que nos obriga a engatar marcha-ré quando a pulsão é de acelerar até o fim.

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