Ao longo desta semana, aproveitei para pôr a leitura em dia. Ao fim de cada tarde, depois de ter esquiado, sentava-me na sala de estar do hotel e ia lendo o que levei.
À minha frente, tinha uma grande vidraça que me mostrava a Serra Nevada coberta de neve. Um espectáculo magnífico!
Anteontem, estava a ler um livro recomendado pelo Hamilton: Desmedida (crónicas do Brasil) do Ruy Duarte de Carvalho.
Já o tinha há bastante tempo, mas só agora consegui começar a lê-lo. Já sabia que era denso e tenho-me entretido com coisas mais leves.De repente tudo fez sentido. Tinha a serra à minha frente, ouvia no ipod trechos do Out of África e lia um livro que versa as relações antigas entre o Brasil, Portugal e Angola.E de repente, o meu mundo fez sentido. Deixei de ver a Serra Nevada. À minha frente estavam anharas sem fim. E, vi zebras correndo desenfreadamente em direcção às montanhas distantes.
Deixo-vos aqui o trecho do livro que estava a ler na altura. Aconselho-vos a comprá-lo se se interessam por estes temas.
Dele já li outro livro magnífico: Vou lá visitar pastores. A África, para homens de cultura ocidental do tempo de Burton, é uma reserva de horrores e de insalubridades, um continente maldito, teatro do horror absoluto e de uma estupenda selvajaria originária... E é a pátria do sangue poluído, amaldiçoado e negro, dos descendentes de Cam, filho de Noé. Se embriagou Noé, e adormeceu, descomposto dentro de sua tenda. E seu filho Cam o viu assim e falou disso, a rir, a Sem e a Japhet, seus irmãos mais velhos. Os quais se muniram então de um pano e entraram na tenda às arrecuas, para cobrir sem ofendê-la, a nudez do pai. Depois de acordar e de vir a saber como se tinha comportado Cam, seu filho benjamim, Noé amaldiçoou-lhe a descendência: será servidora e escura. É a partir daqui, parece, que as interpretações talmúdicas e as tradições judaicas associam a cor negra à servidão imposta à descendência de Cam. ... E a partir daqui viraria ensaio... Desde o século dezoito que a identificação dos filhos de Cam aos povos negros se tinha tornado uma espécie de evidência capaz de justificar a escravidão e a evangelização ao mesmo tempo. Mas, reconsidera-se ao longo do século dezanove, a exegese da bíblia ao mesmo tempo que começam a ter lugar as especulações e as observações dos exploradores que visitam África. Ao monogenismo bíblico substitui-se um poligenismo científico que exclui os povos negros da linhagem noémica e favorece o embranquecimento de Cam. Os três filhos de Noé passam a representar três ramos da raça branca. Os povos negros escapariam assim às origens iniciais. Alarga-se o fosso entre brancos e negros. Para a expansão ocidental é impossível admitir uma qualquer civilização negra e é reconsiderada uma ascendência asiática para os egipcios.... É instaurada uma distinção fundamental entre populações africanas absolutamente negroides e não inteiramente negroides...E por aí adiante.
Acreditem ou não, só muito mais tarde a igreja (sempre a igreja), lançou um decreto papal, afirmando que os indios do Brasil afinal eram seres humanos!
Fiquem bem.
Um abraço
GED
Parece ter sido um final de semana admirável.
ResponderExcluirEssa igreja pensa o que é da vida! Enfurece-me a prepotência que algumas pessoas têm a ponto de escolher quem é ou quem não é gente.
ResponderExcluirGed desculpe a invasão, mas li seu texto e concordo que a igreja invadiu universalmente e impôs seus costumes (a história é prova viva)
ResponderExcluirMas em minhas pesquisas, percebo que a Bíblia não tem nada com isso. Veja sobre a existência comprovada de raças diferentes:
Um dos três filhos de Noé, nascido depois de 2470 AEC. (Gên 5:32; 7:6; 11:10) Era, possivelmente, o filho mais moço (Gên 9:24); contudo, é alistado em segundo lugar, em Gênesis 5:32; 6:10; e em outras partes. Em Gênesis 10:21, Sem é chamado de “irmão de Jafé, o mais velho”. Alguns crêem que a expressão “filho mais moço”, em Gênesis 9:24, se refira a Canaã, neto de Noé.
Cã era pai de quatro filhos, Cus, Mizraim, Pute e Canaã. (Gên 10:6; 1Cr 1:8) Os etíopes, os egípcios, algumas tribos árabes e africanas, e os cananeus descenderam destes filhos. Embora se afirme que algumas das tribos e nações camitas alistadas em Gênesis, capítulo 10, falavam uma língua semítica, isto não refuta que tenham sido de descendência camítica, ou que tenham originalmente falado uma língua camítica. Muitos povos adotaram a língua de seus conquistadores ou de outros povos com os quais se associaram, ou da terra para onde migraram.
Cã casou-se antes do Dilúvio. Sobreviveu ao Dilúvio junto com sua esposa, seu pai e sua mãe, e seus dois irmãos e as esposas destes. (Gên 6:18; 7:13; 8:15, 16, 18; 1Pe 3:19, 20) Os filhos de Cã nasceram depois do Dilúvio.
Algum tempo depois, ficou envolvido num incidente que trouxe uma maldição sobre seu filho Canaã. Noé ficara embriagado de vinho e se desnudara na sua tenda. Cã viu a nudez de seu pai, e, ao invés de mostrar o devido respeito por Noé, o cabeça da família, e o servo e profeta a quem Deus fizera de instrumento na preservação da raça humana, Cã contou a seus dois irmãos o que observara. Sem e Jafé demonstraram o respeito correto por andarem de costas, com uma capa, para cobrir Noé, a fim de não causarem vitupério por olhar a nudez de seu pai. Noé, ao despertar, proferiu uma maldição, não sobre Cã, mas sobre Canaã, filho de Cã. Na acompanhante bênção a Sem, que incluía uma bênção para Jafé, Cã foi omitido e desconsiderado; apenas Canaã foi mencionado como amaldiçoado, e predisse-se profeticamente que ele se tornaria escravo de Sem e de Jafé. — Gên 9:20-27.
É possível que o próprio Canaã tivesse estado diretamente envolvido no incidente e que seu pai Cã não o corrigiu. Ou Noé, falando profeticamente por inspiração, previu que a má tendência em Cã, talvez já manifestada no seu filho Canaã, seria herdada pelos descendentes de Canaã. A maldição se cumpriu parcialmente quando os israelitas semitas subjugaram os cananeus. Aqueles que não foram destruídos (por exemplo, os gibeonitas [Jos 9]) foram feitos escravos de Israel. Séculos depois, a maldição cumpriu-se adicionalmente quando descendentes de Canaã, filho de Cã, passaram a estar sob o domínio das potências mundiais jaféticas da Medo-Pérsia, Grécia e Roma.
Alguns têm sustentado incorretamente que a raça negra, e a escravização dos membros dessa raça, resultaram da maldição pronunciada sobre Canaã. Ao contrário, os descendentes de Canaã, o amaldiçoado, não eram da raça negra. A raça negra descendeu de Cus, e, possivelmente, de Pute, outros filhos de Cã, que não estavam envolvidos no incidente, nem na maldição.
2. Nos Salmos, “Cã” é associado com o Egito, que é chamado de “terra de Cã”. — Sal 78:51; 105:23, 27; 106:21, 22;
Ai está aprova de que a raça negra, por exemplo, nunca foi amaldiçoada na Bíblia.
Só como constatação, sem desejar criar polêmica.
Com amor e carinho,
Sílvia
Duas premissas antes da resposta: não há nenhuma invasão, uma vez que este é um espaço colectivo e...mesmo que não fosse. Não haverá polémica sobre este texto.
ResponderExcluirEu não sou um perito sobre a Biblia.
Este texto, está num livro que li e transcrevi-o apenas.
No entanto, também sei que as interpretações que se fazem da mesma, variam consoante os locais fisicos e temporais. Não me custa acreditar, que haja interpretações de conveniência sobre o tema. Além do mais, o próprio texto biblico, que aparentemente não inclui a raça negra, é em si profundamente racista.
Seja como for, agradeço a opinião e espero vê-la mais vezes por aqui.
Com muita amizade
Henrique