Diga-me se seis da manhã é hora para alguém fazer uma visita, segunda-feira, décimo nono andar e o bairro todo dormindo. Nem aqui, nem na China. Principalmente, se o cérebro da gente estiver debaixo do chuveiro, dedicando-se a esquecer o telefone que não tocou, os amigos que não apareceram, a TV a cabo que, de repente, saiu fora do ar, a pizza que o maldito entregador não trouxe e uma porção de outras coisas de uma noite invisível. Pois lá estava eu, submersa em meu aquário de azulejos, a ensaboar a insônia e cantando there is a light that never goes out, quando uma batida na porta calou a minha boca e forçou-me a desviar o foco da ducha. O sabonete que eu acabara de pegar foi parar perto da toalha, a felpuda que nos minutos seguintes afogou áspera o meu banho povoado de frustrações. No início, confesso que pensei em ignorar a intromissão e continuar aproveitando o momento de espumas. A vida pode ser só um momento, não pode? Então, por que interrompê-lo? "Porque se alguém bater na sua porta em um horário esquisito, algo grave aconteceu". Foi o que a minha mãe sempre disse. E mãe, mais do que mãe, é uma máquina de criar hábitos e deslocar desejos, tanto que abri mão dos meus...
Continua aqui.
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