domingo, 23 de maio de 2010
HISTÓRIA DO JOAQUIM OLIVEIRA
Esta pequena história é digna do Depósito do Maia e do Mínimo Ajuste, onde transitam muitos blogueiros portugueses. Ma contou ( para escrever como os portugueses )o finado Professor Geraldo Nunes Vieira, que foi um dos grandes pesquisadores da agricultura no Brasil e amigo de Joaquim Oliveira, português que no Brasil construiu um império de supermercados. Aliás o primeiro - e muitos anos anos antes dos que depois surgiram aqui em Porto Alegre. O velho Joaquim, que era um homem muito simples, e que vestia-se franciscanamente, plantava cebolas em São José do Norte e as exportava para todo o Brasil, no tempo em que o Brasil não era chamado de " este país ". Pois de uma feita, começou a manter relações comerciais com um importador do Rio de Janeiro, e a cada carga o sujeito mandava um telegrama ( no tempo em que se mandavam telegramas e cartas - as comerciais e as amorosas ) dizendo que o material estava deteriorado por pragas, e que, por isso, não podia pagar o valor da encomenda. Isso aconteceu por algumas vezes alternadas, é claro, porque seria impossível que tudo desse errado com todas as cargas. Mas o Joaquim, que era homem esperto, desconfiou, não teve dúvidas, e tomou um ônibus para o Rio de Janeiro ( no tempo em que viajar de ônibus era mais barato do que voar de avião ), logo depois de receber mais um telegrama dando conta, outra vez, das más notícias. Da Rodoviária foi direto à importadora e deparou, ainda no pátio, com a carga de cebolas em excelente estado de conservação. Então entrou na casa comercial e perguntou à recepcionista se por acaso venderiam toda a carga que estava no pátio. A moçoila saltou da cadeira e foi falar com o chefe, que logo apareceu desdobrando-se em mesuras e gentilezas mil. Joaquim perguntou de onde vinham todas aquelas cebolas tão bonitas e de casca tão branca. O gajo da importadora disse-lhe que vinham do Rio Grande do Sul, cultivadas por um grande e reconhecido produtor, o Sr. Joaquim Oliveira, que eram as melhores cebolas do Brasil, etc. Joaquim perguntou quanto ele faria para a compra de toda a carga que estava no pátio. O malandro, calculando o interesse inusitado de Joaquim pela compra de todo o estoque, cresceu o preço, digamos umas três vezes do que realmente as venderia no mercado. Então o Joaquim disse: Eu compro tudo. À vista. Fizeram os procedimentos comerciais de praxe, e na hora de pagar, Joaquim disse ao malandro:- Pois saiba o senhor que eu sou o Joaquim Oliveira, aquele que lhe envia a mercadoria. O senhor faça um cheque no valor proposto à vista e estamos conversados. O gajo ficou com uma vergonha de se enfiar na privada, pediu desculpas e fez o cheque. Joaquim voltou com o valor que teria ganho se tivesse vendido umas cinco cargas, isto é, recuperou o prejuízo, e nunca mais vendeu cebolas para o Rio de Janeiro. Histórias de português.
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Uma bela história, como ele chama Joaquim deve ser verdade ;)
ResponderExcluirAbraços!
Caríssimo Joakim: Grato pelo comentário. No Brasil fazem muitas piadas sobre portugueses, em geral pejorativas, e o caso de Joaquim Oliveira desmantela esta prática. Abraço.
ResponderExcluirMa contou ( para escrever como os portugueses ).
ResponderExcluirApenas para dizer, que essa forma, não é de todo usada pelos portugueses. Não encontrará em lado nenhum, português escrito assim.
A não ser que seja mesmo por piada.
Um abraço
GED
Gostei muito.
ResponderExcluirNada como ter inteligência e ousadia para vencer um malandro que nos rouba. Lamentavelmente, hoje em dia, todo mundo sente tanto medo dos vigaristas que não faz nada. Deixa-se roubar e pronto.
ResponderExcluirCaro GED:
ResponderExcluirA forma com que escrevi " ma contou " é usual em Saramago, autor do qual li todos os livros. Agora, só não sei se ele o faz por piada, apesar de que sua fina ironia não possa de todo esconder esta possibilidade. Abraços saramagueanos.
Quem diria, esse Joaquim Oliveira que plantava cebolas do outro lado do porto do Rio Grande e se deslocava de ônibus construiu um império de super mercados no Rio Grande do Sul e depois vendeu seu império a um grupo português, a Rede Sonae que depois vendeu para os americanos do Wall Market.
ResponderExcluirahahahha
ResponderExcluirGostei de ler a história.
(a parte mais triste é que hoje em dia em Portugal "Joaquim Oliveira" é sinónimo de um empresário de direitos televisivos que enriqueceu de formas suspeitas e que é visto como um mafioso... Esse "Joaquim Oliveira" desse lado, pelo contrário, ficou conhecido pelo trabalho e pela inteligência).
Pois é, Maia, o Joaquim Oliveira se deu bem :)
ResponderExcluirLembrei agora que um dos sobrenomes da família da minha mãe era Oliveira. Infelizmente, todos sem grana e sem vontade de produzir, ou quase todos, que a vó Ju era bem batalhadora. Também, coitada, casada com o meu avô, ou se mexia, ou se mexia!
ResponderExcluirUm texto que gostei muito.
ResponderExcluirCaríssimos amigos:
ResponderExcluirNunca pensei que o Joaquim Oliveira fosse dar tantos comentários. Ele foi parâmetro de retidão nos negócios e eu o conheci, ainda criança, quando ele fundou o primeiro Supermercado Real, na yua Joao Guimarães, no caminho do meio, aqui em Porto Alegre.
Grato a todos pelos belos comentários.
Eu já conhecia esta história desde que trabalhei no Supermercado Real Cinquentão em Pelotas, nos anos 80. Li no Jornal Realito que era distribuido aos mais de 6 mil funcionários da rede de Supermercados Real e acredito que seja verdadeira.
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