sexta-feira, 21 de maio de 2010

ENCONTROS II


Em 2005 eu estava de férias na minha terra.
Como habitualmente, matando as saudades que já me consumiam.
Também como habitualmente, os meus amigos em Luanda, organizaram um almoço, daqueles que se estende pela tarde fora.
Ao longo das horas, fomos conversando de tudo um pouco, e inevitávelmente conversou-se de livros e de literatura.
Alguém me perguntou, o que eu achava da literatura angolana nos nossos dias.
Óbviamente ninguém estava à espera que eu citasse o grande Luandino, ou Pepetela, ou fonseca Santos, ou Alda Lara, ou Ana Paula Tavares, ou...
Esses são os nossos consagrados, sobre eles estamos todos de acordo.
Disse-lhes que havia alguém de novo, nas letras angolanas, que me tinha fascinado e que o seguia de muito perto. Falei-lhes de Ondjaki.
Do fundo da mesa, levantou-se um miúdo, que me perguntou se eu falava a sério.
Fez-se um silêncio estranho na mesa e eu respondi: claro que falo a sério, Ondjaki é um fenómeno da literatura angolana.
Para meu espanto abandonou a mesa e ninguém me quis dizer a razão.
Algum tempo depois regressou com uma quantidade de livros debaixo do braço e disse-me: eu sou o Ondjaki. Fique com eles , que já estão autografados.
Até hoje ficamos amigos.
Temo-nos cruzado inúmeras vezes e ele não cessa de me surpreender. Um menino brincando com palavras.
Deixo-vos com este poema dele:
                     Tinha aprendido que era muito importante criar desobjectos.
                     Certa tarde, envolto em tristezas, quis recusar o cinzento.
                     Não munido de nenhum artefacto alegre, inventei um espanador de tristezas.
                     Era de difícil manejo - mas funcionava.

Grande abraço
GED

4 comentários:

  1. Ged, também gosto dele. Uma vez o vi aqui em Salvador, por isso tenho um livro seu autografado. Ele costuma desenhar além de assinar, não é? Soube que está morando no Brasil, se não me engano no Rio de Janeiro.
    Martha

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  2. GED, você é um ser de sorte, de talento e de afetos. Não conhecia o Ondijak com seu espanador de tristezas. Gostei muito do poema. Vou colocar junto com as suas na minha pasta de boa poesia.

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  3. Espanador de trsitezas: adorei.
    Que história encantadora!

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