segunda-feira, 24 de maio de 2010

Amor em família

        
         Estou aqui sentada há uma meia hora, e a movimentação nas minhas células ainda é intensa. Latejam as paredes que as revestem. Não sei se é meu corpo ou minha cabeça que insistem com a tempestade ou se sou eu que faço um estilo mexicano, mas o fato é que não consigo me dominar, e as lágrimas jorram como se o meu reservatório emocional fosse feito de um plástico furado ou de um útero incapaz. Não te contei que estou grávida, não é? Sim. Estou. Já são vinte e quatro as semanas que crescem em mim. Minha barriga está grande e altiva, como se fosse eu própria o trono de um rei ou uma fada madrinha. No entanto, o que eu ofereço ao meu filho é pouco, beira a miséria. Reinam ao meu redor, a desordem e a solidão. À minha mesa não sentam mais os inocentes e, quando nos reunimos, pai, irmãos e ausência, é a luz do desafeto, a vela que ilumina.


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4 comentários:

  1. Quis ler o texto todo, e comentei lá... Deixo o mesmo comentário aqui também:

    Eu não saberia descrever os sentimentos que me foram despertados com este texto... Sei que por vezes o que está escrito não corresponde a realidade do escritor, mas também sei que quando um texto carreia tanta emoção, existe ao menos uma parte de quem o escreveu. Há certas coisas que não sei se são imagináveis, não assim, com tamanha fidelidade.

    Quanto a família, acredito que temos a chance de ter duas em nossa vida. Aquela onde nascemos, e aquela que criamos. A que criamos está em nossas mãos, muito mais que aquela onde nascemos. A vida que cresce é o início da sua segunda família, que há de ser bela, e não te deixará nunca mais ser única.

    Abraço.

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  2. Esse texto também me tocou muito. Me assustou de fato.

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  3. BP: vc não está ao modo mexicano, o estilo está à grega mesmo. Parece até que é minha parente.

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  4. Forte seu texto!Então lembrei-me:
    Perdoem a cara amarrada,
    Perdoem a falta de abraço,
    Perdoem a falta de espaço,
    Os dias eram assim...
    Perdoem por tantos perigos,
    Perdoem a falta de abrigo,
    Perdoem a falta de amigos,
    Os dias eram assim...
    Perdoem a falta de folhas,
    Perdoem a falta de ar
    Perdoem a falta de escolha,
    Os dias eram assim...
    E quando passarem a limpo,
    E quando cortarem os laços,
    E quando soltarem os cintos,
    Façam a festa por mim...
    E quando lavarem a mágoa,
    E quando lavarem a alma
    E quando lavarem a água,
    Lavem os olhos por mim...
    Quando brotarem as flores,
    Quando crescerem as matas,
    Quando colherem os frutos,
    Digam o gosto pra mim...
    Digam o gosto pra mim...
    Victor Martins/Ivan Lins
    Coma amor ecarinho,
    Sílvia

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