sexta-feira, 14 de maio de 2010

QUEM SE LEMBRA?


                         O centenário do Biotônico

Cândido Fontoura Silveira (1885-1974) era farmacêutico em Bragança Paulista quando, aos 25 anos de idade, em 1910, criou o Biotônico Fontoura, um fortificante e antianêmico, rico em ferro. Quase todo farmacêutico do interior tinha um medicamento de sua invenção. No mais das vezes, era um purgante. Eventualmente, um fortificante. O ideal de saúde era, então, o da pessoa gorda e mesmo o da criança gorda. Num romance ambientado nos anos 1920, da Sra. Leandro Dupré, Éramos Seis, que em boa parte se passa numa casa da Av. Angélica, volta e meia Dona Lola, a personagem, se refere apreciativamente à robustez de crianças e jovens. Magreza era doença. Um remédio que abria o apetite tinha tudo para dar certo. Eram comuns, sobretudo na roça, as verminoses, que corroíam a saúde dos roceiros que andavam descalços, os parasitas penetrando pela planta dos pés, causa de magrezas que marcaram a imagem do caipira.





Fontoura era amigo de Monteiro Lobato (1882-1948) que, em 1914, publica em O Estado de S. Paulo, o artigo “Velha praga”, no qual define pela primeira vez o perfil do Jeca preguiçoso.

Por aquela época era comum a edição de almanaques distribuídos nas farmácias, com o calendário, as fases da lua, as épocas de plantio dos diferentes cultivos, anedotas e conselhos práticos.

Lobato se tornara editor do Almanaque Fontoura, que ao longo dos anos teve milhões de exemplares de tiragem.
Em 1924, Fontoura passa a oferecer como brinde, na compra de cada vidro do Biotônico, um exemplar do livreto de Lobato, Jeca Tatuzinho.

A obra, ilustrada, conta a história de um Jeca magro, doente, preguiçoso, mal nutrido.

Na passagem de um médico de roça por seu rancho, o caipira fica sabendo que estava na verdade doente, com amarelão.

O médico recomenda-lhe o remédio para a doença e de reforço o Biotônico para abrir-lhe o apetite, além de recomendar botinas ringedeiras para proteção dos pés.
O Jeca logo se torna um verdadeiro touro, chega a agarrar uma onça pelos bigodes, manda por botinas até em porcos e galinhas.

Ao opor-se ao caipira do estereótipo, o Biotônico serviu, entre nós, para difundir a ideologia da modernidade urbana. O livrinho de Lobato teve a edição de mais de 100 milhões de exemplares.


Ficou gordo e bonitão. Arrumou até casamento. Fez uma casa maior e bem feita, com varanda e tudo mais. Andava de chapelão e botas. Teve filhos que ele também não deixava que andassem descalços. Pois sabia agora quanto vale a saúde.

Tão compenetrado era, com respeito a isso.Criava porcos em pocilgas bem construídas e duas vezes por ano, levava-os em seu caminhão Para vende-los no mercado da cidade. Comprou mais terras e formou uma pequena fazenda a quem deu o nome de Fazenda Feliz.

A sua vida, ficou totalmente modificada e para muito melhor. Tinha telefone, e uma TV que via á noite, sentado em uma cadeira de balanço. A sua casa era bem arrumada, com um relógio que batia as horas.

Em fim, o nosso antigo caipira, era hoje homem de negócios e aos domingos, ia á cidade, cavalgando um belo cavalo alazão, soltando boas baforadas de seu charuto.

Conclusão: O Jeca de outros tempos, agora transformado em seu estado de saúde e progresso financeiro era mesmo um vencedor na vida. Graças a modificação de sua conduta em relação a higiene, a saúde e ao trabalho. Tudo isso, graças ao Biotonico Fontoura!

O sucesso do fortificante fez a fortuna de Cândido Fontoura.

Mas conta a lenda que um dos fatores dessa fortuna foi também o fato de que ele teria começado a exportar seu remédio para os Estados Unidos, onde vigorava a Lei Seca. O Biotônico tinha originalmente, 9,5% de álcool etílico, o que o tornava um inocente aperitivo. Vendido em farmácia, na América puritana, podia ser comprado como artigo medicinal, sendo, portanto, bebida não pecaminosa. Algo parecido acontecera com a Coca-cola, uma bebida estimulante, do século 19, originalmente vendida em farmácia.

* Professor Emérito da Universidade de São Paulo.

Dentre outros livros, autor de A Sociabilidade do Homem Simples (Contexto, 2008),
A Aparição do Demônio na Fábrica (Editora 34, 2008), O Cativeiro da Terra (Contexto, 2010).
Os comerciais:
O mais antigo:


Comercial feito nos anos 80:



POIS É AQUI FICAPARA QUEM DESEJA MATAR SAUDADES...DIVIERTAM-SE!
EU TOMEI, BEM COMO MEUS IRMÃOS! ERA BOM PARA TUDO, E SE NÃO FEZ BEM, MAL TAMBÉM NÃO, PORQUE ESTOU AQUI POSTANDO PARA QUEM TIVER SAUDADES DESSA ÉPOCA COMO EU TENHO! TUDO ERA SIMPLES E RESOLVIDO COM O FAMOSO E SEMPRE MILAGROSO: BIOTÔNICO FONTOURA! ENTÃO UM VIVA PARA ESSE CENTENÁRIO!
Com amor e catinho,
Sílvia

















 

6 comentários:

  1. Silvia...
    Eu simplesmente admiro aos montes o Monteiro Lobato...e bebi muito Biotônico quando era criança...adorava...vai ver era a dose a mais de alcool do meu dia...rsrsr...bem melhor que o outro fortificante que eu tomava...o temido óleo de fígado de bacalhau....barghhhhhh...
    Parabéns pelo post...
    Beijos gentis...
    Leca

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  2. Olá Silvia, parabéns pelo post! Eu tomei muito esse fortificante, e quem não tomou, nos anos 50, 60, 70 e muito mais? Abraço forte e um belo e feliz (e fortificado..rsrs) final de semana.

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  3. Adorei as imagens e o relato. Nunca tomei o biotônico Fontoura porque meu pai achava bom que fossemos magrinhos. Há um tempo, pensei em dar para o meu pequeno, mas fui censurada. No final das contas, eu também acho bom que ele seja magrinho :) Magrinho e forte, é claro.

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  4. Que coisa boa é saber que temos gente como a gente, sempre algo em comum! Também fiquei com saudades Leca e Taddeu do Biotônico e até do olho de figado rsrsrsrs.
    Bípede, acho que o biotônico mereçe um Bolo pelo 100 anos de existência e ainda promete muitos mais!
    Beijos com amor e carinho,
    Sílvia

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  5. Bom mesmo era óleo de fígado de bacalhau...

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  6. Hermosa historia y hermoso recorrido iconográfico!
    Aprendí algo nuevo. (Nuevo para mí)
    Silvia, felicitaciones.

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