domingo, 14 de fevereiro de 2010

Valentine's Day

No Brasil não é, e nem mais no resto do mundo quase todo, fora algumas partes dos EUA.
Mas foi. O dia dos namorados.
E lá vem então mais um retrato antigo.
De um dia de namorados de fronteiras atravessadas.
De tempos passados. Nos modelos brasileiros.


San Valentino

Eram umas 7 da noite do dia 11 de junho. Véspera do dia dos namorados, antevéspera do seu aniversário, saía para levar a mãe na casa da tia e o telefone tocou: – Oi, minha amiga!!?!?? Preciso de um favor seu!?!?!?!
Precisava que fosse intérprete para um diretor italiano que, estava na cidade para dirigir uma ópera, e o levasse assistir a um coro de crianças que faria parte do espetáculo
Ela foi. Era sábado e, fora ficar com a mãe e a tia, duas velhinhas simpáticas e faladeiras, não tinha nenhum outro programa. A amiga dissera tratar-se de um homem muito charmoso. Ele era alto, aparentava uns 50 anos ou mais, cabelo grisalho meio comprido, com profundas entradas e uma espécie de franjinha, olhar um pouco cansado, mas curioso.
Sorriu simpático e parecia divertido com a experiência. Assistiu estoicamente toda a apresentação dos inúmeros corais e pretensos artistas infantis. Saiu ao final para fumar.
Começaram a conversar na rua, em frente ao teatro, e o assunto varou a noite. Música popular brasileira, italiana, poesia, teatro, rock progressivo italiano, Vinicius, Tom, Caetano, Mina, Celentano, Pino Danielle… Recitavam-se mutuamente as letras das músicas, as poesias, os trechos musicais e poéticos do teatro, dos filmes. Enquanto giravam, a cidade flutuava na neblina dos parques, dos monumentos. Pedreira, Leminski, Ópera de Arame e o guarda local espantado com os dois malucos saltando o alambrado às 2h da madrugada para colar o nariz no vidro e olhar a escuridão lá dentro. Quase morreram de susto. Personagens desconexos os três.
Ao som do Premiata Forneria Marconi, passearam nas alturas do Tanguá, olhando as águas insondáveis que subiam em névoa. Com a manhã se aproximando, caminharam ao redor de outro lago e, na ponte de madeira, ela cantou “Chega de saudade”.
O dia amanheceu azul e ela o levou para o hotel enquanto o CD repetia: “Não quero mais esse negócio de você longe de mim”. Ele conhecia a melodia e cantava num português macarrônico de vogais abertas e ausência de nasais…
Riram muito da sua desafinação musical, espantados e divertidos com a afinação mental que os entontecia levemente.
Passaram por um outdoor gigante sobre o dia dos namorados, que o estranhou. San Valentino a giugno? Pensa te!
Tomando café com a mãe um pouco depois, ela riu muito contando as peripécias da noite. O interfone tocou e o porteiro avisou a chegada de uma encomenda. Desceu para receber o enorme maço de rosas vermelhas com um poemeto italiano, numa letra ínfima quase ilegível. Lugar comum, nenhum lugar. Riu.
Ajeitou as flores que ficaram perfumando a mesa da sala vazia.
Saiu para o sol. Dia dos namorados, ópera antiga, bossa nova, teatro, poesia, a vida dançando colorida na canção popular. “Há dias que a gente se sente como quem partiu...”.

Imagem:polMarta -in Poland>village -aunt's farm /Jul2007

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