terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Água viva


Não, não é o que parece. A roupa está molhada, mas a alma, seca. A rebeldia dos cabelos aconteceu antes da queda. Eu já andava torta e descabelada. O vestido sempre foi da cor da pele, da minha pele sem sol, do meu jeito discreto, sem salto alto, só de sapatilhas e sem pontas, macias feito geleia para evitar as dores, os tropeços e os soluços. Eu soluço e me engasgo e ninguém diz nada. Estão todos ao redor da piscina, dentro da piscina, fazendo xixi na piscina, e eu aqui, flutuando por baixo, porque isso não é um mergulho, um nado no nada. Eu sou como uma pérola sem ostra. Alguém roubou o casulo, e a metamorfose ainda andava pálida e desfocada feito minha figura enrolada em rendas e tecidos antigos, antigos e sem projetos, ao alcance de mãos vorazes, de dedos metalizados, loucos para me desfilarem perto de um crematório, mas não, não é o que parece. A roupa está molhada, mas a alma, seca.
Postado por Bípede Falante, por engano, dentro da conta do Mínimo Ajuste. Sorry...

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