sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Ao calhas, como diria Amélia

Por mais misteriosa que seja a vida, 
por mais mitos que necessite o homem,
por maior que seja a fé, de Deus no homem, ou vice-versa,
por menor que seja a fé, do homem nele mesmo, 
há momentos que não podem ser fugidos, escapados: 
Esta é a hora da:

VERDADE
Carlos Drummond de Andrade
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


Imagem Picasa -joanna>Scotland

2 comentários:

  1. Como escrevi no seu blog, tenho achado seus textos interessantes, intrigantes. Vou continuar lendo.

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  2. Este poema do Drummond é absurdamente impactante e verdadeiro. Esquarteja a verdade conforme a faca de cada um.

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