quarta-feira, 14 de julho de 2010

um pouco de poesia portuguesa...

[deixo a todos esse belo poema, e especialmente ao Marcantonio, que me pareceu tão bem desenhado nestes versos]


 ORFEU 
(Helder Macedo)

Não é bastante
que eu reconheça a minha solidão
e a preze como o início dum caminho.
Não é bastante
ser livremente tudo quanto sei
e estar aberto a tudo o que serei.
Tudo o que fui e o que sou e o que serei
já são iguais
no tempo do meu todo ignorado.
Quero abrir o que as palavras não descrevem
por já não responder ao sim e ao não
do meu espelho conhecível.
Já não me basta apenas dar um nome
à morte que me cabe enquanto vivo
porque morrer é ter perdido a morte
para sempre
tornando sem sentido o sim e o não
com que me circundei e defini-me.
Conheço-me as fronteiras.
Quero o resto.

 **********

[Esse poema é maravilhoso.
Também eu quero o resto.]

4 comentários:

  1. Adorei essa frase...
    adorei tudo...
    mas...sobretudo essa frase...
    "Quero abrir o que as palavras não descrevem"
    lindo
    Beijos
    Leca

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  2. bom que gostaste, Leca. esses poetas portugueses são pra lá de feras, são mestres.

    beijos

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  3. Ô Andrea, até eu tive visões de mim nesse poema. Se tivesse inspiração tão alta teria escrito algo
    parecido. Obrigado pela lembrança.

    Beijo.

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  4. Marco, e não parece mesmo? rsrs
    tuas inspirações são grandes, meu caro. E devo dizer que vêm se agigantando a olhos vistos.

    beijo

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