sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Um Poema e uma Pergunta

INTROMISSÃO

Sei que essa luz (exatatamente
essa luz e não outra qualquer)
traz de volta um dia já incinerado.

Decerto que as cinzas daquele dia
não foram espalhadas no oceano
nem misturadas à terra ressequida
que a memória não mais revolve.

Eu fizera delas um desenho acromo
e instável
que a mínima luz roubada de uma fresta
poderia colorir,
como se injetasse sangue
nas veias empoeiradas de um vampiro.

Mas, se fosse um dia bem vivido
descansaria em paz,
e não estaria no hoje intrometido.


* * * * * * * * * * * * * * * * *

Por que o suicídio de um poeta
É sempre visto como uma nota de rodapé
De todos os seus poemas?


Outros poemas AQUI

4 comentários:

  1. acredito eu...
    que poetas...
    que suicídios...
    se permeiam...
    não...
    não é...meu veredito...
    é só uma observação...

    Beijos
    Leca

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  2. Porque o mundo é habitado de cegos que só enxergam o que "querem" ver. Ao ler esse teu poema, lembrei-me de Torquato Neto, que antes
    de ir-se embora compôs a Canção do Adeus e, ninguém que estava à sua volta "quis" perceber
    sua angústia existencial:
    "Adeus, vou pra não voltar,
    e onde quer que eu vá,
    sei que vou sozinho...
    Tão sozinho, amor,
    nem é bom lembrar,
    que eu não volto mais desse meu caminho"....

    Um beijo, querido POETA!!!

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  3. Somos a nota de rodapé Dele, sem que ele nos saiba da existência, ele escreve para nós.

    Beijo.

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  4. Mínima luz, mínimo ajuste, tudo pode ser questão de luz e ajuste - e eis o poema, a iluminação.

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