quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O Alzheimer, pelo paciente Arthur Rivin.

Acredito que nosso desejo seria efetuar Postagens alegre, divertidas, educativa, mas nunca tristes. Mas por conta de ter convivido com uma grande Mulher que criou cinco filhos com toda dignidade, amor e carinho, estou postando o Texto abaixo. Sra. Wilma, minha Mãe conviveu com essa doença (que eu chamo de maldita- como é chamada MAL de...), por 13 anos. Ao receber o diagnóstico não acreditei. Levei-a em uns seis Médicos diferentes, fiquei indignada, me rebelei, gritei, chorei, mas o tempo se encarregou e mesmo sem nunca compreender passei a viver o ‘filme’ dela. Perguntava-me; “-Como pode uma Mulher, mãe de cinco filhos, inteligente, brincalhona, bem humorada, dona de caráter impecável. Sabedoria, empatia, humildade, amor, educação eram suas palavras de ordem. Amava história e Geografia. Lia todas as revistas de sua época como Super Interessante, National Geographic, Seleções (todas!). Ensinou-me a andar, falar, escrever, ler todos os livros de Monteiro Lobato, Joaquim Manuel de Macedo, Erico Veríssimo, e por ai... Então como de repente do nada sua mente se apaga e não consegue lembrar-se nem de quem é? Um dia nós fomos caminhar e nos sentamos no jardim de onde moro. Ela me perguntou: ”- Meu marido foi um bom homem e um bom Pai?” Eu lhe respondi como seu marido foi maravilhosamente encantador como cônjuge e Pai de cinco filhos serelepes e felizes. Ela respondeu-me que assim ficava tranqüila, pois percebia que algo de errado estava acontecendo com sua memória e por isso desejava saber certos acontecimentos. Quando voltamos, ela pegou uma caneta e anotou o nome de seus Pais e de seus seis irmãos e me mostrou para saber se todos os nomes constavam no caderno. Passamos a escrever muito desde então sobre familiares, amigos, vizinhos, lembranças que ainda estavam com ela, tudo era anotado e líamos vez após vez como desejava. Entrou numa Escola onde havia atividades como dança, exercícios, brincadeiras, com a finalidade de exercitar a memória ao máximo. Faleceu com 84 anos de idade, em 2005. Então com pleno conhecimento de causa por ter convivido com a Vovò Wilma (como a chamávamos), por anos com o Mal de Alzheimer posto o Texto abaixo:
 É sempre muito profundo e emocionante o relato do médico que se especializa em estudar e combater determinada enfermidade que depois acomete a ele próprio. Num caso similar ao da psiquiatra Kay Redfield Jamieson, que contou a sua história no livro "Uma Mente Inquieta", o médico americano Arthur Rivin escreveu um excelente artigo, publicado na edição do 'O Estado de São Paulo' de, 03/07/10, sobre a sua experiência com o mal de Alzheimer. Leitura obrigatória não só pra quem já está na terceira idade, mas principalmente para quem quer chegar lá bem informado e preparado:
O Alzheimer, pelo paciente Arthur Rivin
"Sou médico aposentado e professor de medicina. E tenho Alzheimer.
Antes do meu diagnóstico, estava familiarizado com a doença, tratando pacientes com Alzheimer durante anos. Mas demorei em suspeitar da minha própria aflição.
Hoje, sabendo que tenho a doença, consegui determinar quando ela começou, há 10 anos, quando estava com 76. Eu presidia um programa mensal de palestras sobre ética médica e conhecia a maior parte dos oradores. Mas, de repente, precisei recorrer ao material que já estava preparado para fazer as apresentações.
Comecei então a esquecer nomes, mas nunca as fisionomias. Esses lapsos são comuns em pessoas idosas, de modo que não me preocupei.
Nos anos seguintes, submeti-me a uma cirurgia das coronárias e mais tarde tive dois pequenos derrames cerebrais. Meu neurologista atribuiu os meus problemas a esses derrames, mas minha mente continuou a deteriorar.
O golpe final foi há um ano, quando estava recebendo uma menção honrosa no hospital onde trabalhava. Levantei-me para agradecer e não consegui dizer uma palavra sequer.
Minha mulher insistiu para eu consultar um médico. Meu clínico-geral realizou uma série de testes de memória em seu consultório e pediu depois uma tomografia PET, que diagnostica a doença com 95% de precisão.
Comecei a ser medicado com Aricept, que tem muitos efeitos colaterais. Eu me ressenti de dois deles: diarréia e perda de apetite. Meu médico insistiu para eu continuar. Os efeitos colaterais desapareceram e comecei a tomar mais um medicamento, Namenda.
Esses remédios, em muitos pacientes, não surtem nenhum efeito. Fui um dos raros felizardos. Em dois meses, senti-me muito melhor e hoje quase voltei ao normal.
Demoramos muito tempo para compreender essa doença desde que Alois Alzheimer, médico alemão, estabeleceu os primeiros elos no início do século 20, entre a demência e a presença de placas e emaranhados de material desconhecido.
Hoje sabemos que esse material é o acúmulo de uma proteína chamada beta-amiloide. A hipótese principal para o mecanismo da doença de Alzheimer é que essa proteína se acumula nas células do cérebro, provocando uma degeneração dos neurônios.
Hoje, há alguns produtos farmacêuticos para limpar essa proteína das células. No entanto, as placas de amilóide podem ser detectadas apenas numa autópsia, de modo que são associadas apenas com pessoas que desenvolveram plenamente a doença.
Não sabemos se esses são os primeiros indicadores biológicos da doença.
Mas há muitas coisas que aprendemos. A partir da minha melhora, passei a fazer uma lista de insights que gostaria de compartilhar com outras pessoas que enfrentam problemas de memória: tenha sempre consigo um caderninho de notas e escreva o que deseja lembrar mais tarde.
Quando não conseguir lembrar-se de um nome, peça para que a pessoa o repita e então escreva.
Leia livros. Faça caminhadas. Dedique-se ao desenho e à pintura. Pratique jardinagem. Faça quebra-cabeças e jogos. Experimente coisas novas.
Organize o seu dia. Adote uma dieta saudável, que inclua peixe duas vezes por semana, frutas e legumes e vegetais, ácidos graxos ômega três.
Não se afaste dos amigos e da sua família. É um conselho que aprendi a duras penas. Temendo que as pessoas se apiedassem de mim, procurei manter a minha doença em segredo e isso significou me afastar das pessoas que eu amava.
Mas agora me sinto gratificado ao ver como as pessoas são tolerantes e como desejam ajudar.
A doença afeta um a cada oito pessoas com mais de 65 anos e quase a metade dos que têm mais de 85. A previsão é de que o número de pessoas com Alzheimer nos EUA dobre até 2030.
Sei que, como quaisquer outros seres humanos um dia vão morrer.
Assim, certifiquei-me dos documentos que necessitava examinar e assinar enquanto ainda estou capaz e desperto, coisas como deixar recomendações por escrito ou uma ordem para desligar os aparelhos quando não houver chance de recuperação.
Procurei assegurar que aqueles que amo saiba dos meus desejos.
Quando não souber mais quem sou, não reconhecer mais as pessoas ou estiver incapacitado, sem nenhuma chance de melhora, quero apenas consolo e cuidados paliativos."
ARTHUR RIVIN FOI CLÍNICO-GERAL E É PROFESSOR EMÉRITO DA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA.
Alois Alzheimer
Eu e Minha Mãe, Sra. Wilma

Saudades... Mãe.
Sílvia

7 comentários:

  1. Querida Silvia,
    Que doença triste essa, que mal!!!!
    Minha sogra (87) tem alzeimer e é uma tristeza. Pra todo mundo. Mas acho que agora ela não tem mais consciência de nada. Ainda bem, mas nós...
    Bjsssss

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  2. Marliborges, realmente é difícil. Mas fica muito leve quando os abraçamos, cantamos, brincamos, enfim, navegamos com eles, dançamos a músico no compasso deles. Postei esse mesmo texto na minha Casa. E, lá poderá perceber pelo comentário deixado, como é gostoso tratá-los com dignidade, muito afeto, amor e de tudo de bom um montão!
    Com carinho,
    Sílvia
    http://www.silviacostardi.com/

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  3. Foi importante você dividir isso com todos nós aqui. Obrigado.

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  4. Todas as vezes em que me deparo com esse tipo de depoimento, fico perdida, sem saber definir o meu sentimento: por que uma pessoa que se dedicou toda a sua vida para proteger um dos tesouros mais preciosos que é a vida, há de sofrer desse jeito? Mas, fico feliz, pois existe algo no universo que não deixa passar batido, uma pessoa magnanima e lhe dá uma chance! Aí, fico feliz da vida! Sinto que tudo tem sua razão de ser: minha querida mãe também sofre desse mal; achava que não merecia esse fim, mas ela também, teve aliviada sua dor maior: por amar demais os filhos, nunca parou de se preocupar com cada um deles: 5 filhos. Todos crescidos, já vovôs e vovós, mas ela se preocupava e ainda adicionou os netos e bisnetos no seu mundo de pensar só no bem estar e felicidade de todos. Aí, acho que a doença, aliviou o seu sofrimento sem fim: hoje ela parece uma criança. Será que ela está feliz? Acho que sim, tem uma saúde física boa e está sempre sorridente. Então, continuo orando e sinto que nossos corações estão unos. A minha eterna gratidão a ela, por ter me criado com tamanha dedicação. Rainbowbridge

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  5. Tenho uma irmã com Alzheimer. É uma doença muito trste pois perder a memória é um risco de se perder o respeito e a dignidade perante o mundo. Convivendo com ela diáriamente, cheguei a conclusão de que esta doença leva a memória mas não os sentimentos. Que os momentos de agressividade se deve a não compreenção do que está ocorrendo no momento, parem o que estiver fazendo com ela , esperem ela aceitar,expliquem , dê carinho e atenção e tudo passa. Mantenho todos os seus hábitos antigos para que ela possa pelo menos se reconhecer. Sempre falo frases que ela costumava dizer. Vive quase sempre feliz, é um trabalho de muito amor.

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  6. Querida, Sílvia! A história da minha mãe(77) é parecida com a do Dr Arthur Rivin, eu penso! Ela teve 3 AVCs após o falecimento de nosso pai e hoje tem consciência de que está perdendo aos poucos a memória...nestas horas, sente uma tristeza imensa, nos demais momentos (nós gostaríamos que ela marcasse mesmo tudo, mas ela não quer!!)...nos demais momentos, participa de um grupo com atividades, caminha com a cachorrinha, participa com a gente das reuniões em família. Nós 4 nos dividimos para estar com, além de uma irmã mais jovem que está lá sempre presente,tendo cuidados com a nossa avó(98)também, que está forte ainda! A mãe não tem paciência com ela, mas também não quer tirá-la de lá...Todo dia é um aprendizado e o mais importante, é termos amor e paciência com o "jeitinho novo" dela!!!rsrsrs Um grande abraço a todos e obrigada por poder compartilhar! Aline.

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  7. A Semeadura é livre, mas a Colheita obrigatória.

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