No início era o nada. Ou muito pouco. Maria, diferente da Virgem e de todas as meninas de seu bairro, não desfilava virtudes, não se submetia a sonhos, nem procurava por respostas. Sua existência, aprisionada em um corpo quase invisível, apenas se arrastava. Diante do eco de outras vozes, Maria nunca ouvia o ressoar interno da própria vibração. Em raras ocasiões, notava um discreto visitante em seus pensamentos, mas ela não o deixava entrar. A lei era a da eternidade e, se a prisão íntima em que vivia era imóvel, ela permaneceria fiel e vazia em seus limites, até o quebrar-se da regra. Andaria, calada, de casa para a escola e da escola para casa e obedeceria os comandos do cotidiano sem discutir. Seria o nada ou o muito pouco estabelecidos e, de sua alma, não surgiriam mais que ínfimas projeções.
Continua aqui nos Contos Marginais.
Bipede, muito interessante. Lembrei do livro "Nunca lhe prometi um Jardim de Rosas" de Hannah Green. Mostra as vivencias de uma jovem nos mundos por ela criado e aborda muito o tema de Texto, conflitos de relacionamentos baseados em velhos esquemas carregados de preconceito. O personagem se refugia ne seu mundo interior mas seus conflitos não acabam até.... Fascinante para que desejar saber como se resolver nosssos comandos equivocados!
ResponderExcluirBeijos carinhosos.
Sílvia
http://silminhacolchaderetalhos.blogspot.com/
Este é um posto Saramagueano. Excelente, Bípede.
ResponderExcluirBjs.
Obrigada pelos comentários.
ResponderExcluirPaulo, você que gosta de escrever contos, se quiser participar dos Contos Marginais, escreva que enviamos o convite para ser autor.
Bípede Falante
Maria dormiu mais que sonhou. Optou por sobreviver, apenas. Uma forma menos trabalhosa de encarar a vida. A mediocridade faz cansar apenas quem a observa.
ResponderExcluirBjs