O meu avô era agrimensor.
Herdei alguns de seus instrumentos
Misteriosos que eu tanto admirava.
Mas o seu teodolito foi vendido;
Percebi sua ausência no armário
Onde era guardado solenemente
(eu achava que teodolito
Tinha algo a ver com deus).
Mas ganhei réguas, trenas, esquadros,
Magníficos transferidores, prumo, penas
E esse estranho bípede: o compasso
Que anda em círculos.
Ah, sim: um tira-linhas incompreensível
Porque não as tirava, mas as ordenava,
Paralelas.
Aprendi a utilizar a todos.
Esqueci de mencionar um manual
Cheio de ilustrações de um mundo
Desconhecido e todo certinho,
Incluindo um retrato do desaparecido
Teodolito.
Deixei para o final da lista
O que de melhor o meu avô me legou:
Uma planta cheia de linhas e letrinhas,
Com um X longínquo, quase apagado,
Assinalando
Por onde desterrar os meus olhos.
Mondrian - Pier e Oceano - 1914
Maravilhoso, já comentei no Diário Extrovertido. Quem não conhece, vai lá, porque é talento puro do Marcantônio.
ResponderExcluirAbraço,
Tânia
Deixou além da planta, o projeto e a obra pronta, literária e aberta em forma de Marcantonio.
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