sábado, 27 de fevereiro de 2010

Tal como uma pedra na minha cidade do cansaço

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Tal como uma pedra na minha cidade do cansaço
Corpo quase infinito e assim, quase liquido
São nítidas ou límpidas, as minhas palavras em silêncio.
Ainda assim
Da alma que tantas vezes imitei
Quase nada ficou.

Ferida a calma da árvore que na memória se semeou,
A minha memória resistente no grão de terra desaparecido
Assim se inicia o regresso da viagem
Da penúltima viagem

Se nem das folhas
Nem dos livros que li e rasguei,
Nada ficou

Das palavras incertas
Escritas no papel da minha carne,
De que vale a minha escrita
Nem da pele
Nem do mar que reli e risquei
Nada ficou.

por Ricardo S., em Maio de 1993

|imagem: Riscos com cavalo, de António Quadros|

2 comentários:

  1. Leonardo, impressionante poema. Imagens inusitadas, tocantes, densas. Vai entrar para a minha lista de palavras inesquecíveis, aquelas que ficam "escritas no papel da minha carne" sem me pedir permissão alguma.

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  2. Voltei. Gostei tanto tanto. O vocabulário me fascina. O fluxo me fascina. A percepção me fascina.

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