Não, não é o que parece. A roupa está molhada, mas a alma, seca. A rebeldia dos cabelos aconteceu antes da queda. Eu já andava torta e descabelada. O vestido sempre foi da cor da pele, da minha pele sem sol, do meu jeito discreto, sem salto alto, só de sapatilhas e sem pontas, macias feito geleia para evitar as dores, os tropeços e os soluços. Eu soluço e me engasgo e ninguém diz nada. Estão todos ao redor da piscina, dentro da piscina, fazendo xixi na piscina, e eu aqui, flutuando por baixo, porque isso não é um mergulho, um nado no nada. Eu sou como uma pérola sem ostra. Alguém roubou o casulo, e a metamorfose ainda andava pálida e desfocada feito minha figura enrolada em rendas e tecidos antigos, antigos e sem projetos, ao alcance de mãos vorazes, de dedos metalizados, loucos para me desfilarem perto de um crematório, mas não, não é o que parece. A roupa está molhada, mas a alma, seca.
Postado por Bípede Falante, por engano, dentro da conta do Mínimo Ajuste. Sorry...
Muito bom.
ResponderExcluirtb gostei.
ResponderExcluirGosto!!
ResponderExcluirEu amei.
ResponderExcluirLinda toda a imagem.
Isso é poesia pura.
Forte.
Você é maravilhosa minha querida.
Sei que sabe disso.
Marie
Fiquei um pouco incomodado, mas gostei.
ResponderExcluirA influência de Márai -- estava falando sobre o assunto no Blog do "companheiro" sacana -- é notória. Muito bom. É proibido fazer xixi na piscina.
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