sábado, 20 de fevereiro de 2010

Continuando...(4)


O velho praguejou entre dentes, enquanto esfregava o pé dorido. E, enquanto esfregava o pé dorido e praguejava, recordou…


Aquele mono, com o disco pesado de bronze que dava tanto trabalho a polir, veio da China.
Foi o General que o trouxe quando ainda era moço e não tinha quem lhe obedecesse e só recebia ordens.
O General também tinha sido jovem.
Não que ele se lembrasse desse tempo.
Quando veio lá para casa, rapazinho de nove anos, enfezado e medroso, já o General era velho.
Ou então nem tanto mas, para uma criança de nove anos, todos os adultos que não riem são velhos e, ao General, nunca ele vira rir.
Agora o velho era ele, embora soubesse rir (ahhhh, e se gostava de uma boa gargalhada…)

De repente, o velho parou de divagar em memórias e risos. Estacou, rígido, quando percebeu que o gongo não estava no sítio e pior, tinha tropeçado nele porque o corredor estava às escuras e o oratório não tinha a vela que nunca se apagava.

“Aposto que foi aquele demónio. Não nega o sangue que lhe corre no corpo…”

E fez o sinal da cruz.



(continua)

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