A porta estava fechada e, com toda a certeza, estaria fechada há décadas.
Pelo pó que havia no chão percebia-se bem que ninguém passava naquele corredor há demasiado tempo.
A luz escassa da vela, roubada do oratório de pau-santo, que dia e noite alumiava os santos de devoção da casa, lançava uma mancha tremeluzente e nada segura sobre o vazio que a escuridão prometia.
Conseguia ver mal as marcas dos seus passos inseguros pelo pó acumulado por dias incontáveis.
O silêncio da noite era cortado por aqueles barulhos que a certeza de se estar a cometer um acto ilícito sempre acorda.
Sons cavos, que não sabia identificar, misturados com o tambor do sangue que lhe apertava as fontes e tremia nos ouvidos e a respiração, tão pesada, que parecia antes o sopro furioso de um temporal de Janeiro.
Não estava frio, mas tremia.
Um pingo de cera queimou-lhe a mão gelada enquanto olhava para a porta que, com toda a certeza, estaria fechada há décadas.
(continua)
Wow!! Quando???
ResponderExcluirfico à espera de mais prosa
ResponderExcluirassim...
O dom de saber fazer sentir as palavras não é muito comum, mas está aqui, contigo. :-) Poppet
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