O Eu e os muitos Eus.
Eros e Psique
- Conta a lenda que dormia Uma Princesa encantada A quem só despertaria Um Infante, que viria De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado, Vencer o mal e o bem, Antes que, já libertado, Deixasse o caminho errado Por o que à Princesa vem. A Princesa Adormecida, Se espera, dormindo espera, Sonha em morte a sua vida, E orna-lhe a fronte esquecida, Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado, Sem saber que intuito tem, Rompe o caminho fadado, Ele dela é ignorado, Ela para ele é ninguém. Mas cada um cumpre o Destino Ela dormindo encantada, Ele buscando-a sem tino Pelo processo divino Que faz existir a estrada. E, se bem que seja obscuro Tudo pela estrada fora, E falso, ele vem seguro, E vencendo estrada e muro, Chega onde em sono ela mora, E, inda tonto do que houvera, À cabeça, em maresia, Ergue a mão, e encontra hera, E vê que ele mesmo era A Princesa que dormia.
- Fernando Pessoa
Muito bom. Os mitos geralmente são os mesmos, se repetem e se complementam. Ninguém é perfeito, nem mesmo os deuses, os príncipes e as princesas. Sempre vai haver um sapo dentro de nós, uma hybris que torna o cosmo mais interessante. A harmonia absoluta é uma imensa chatice. Que graça teria o mundo se Narciso não se encantasse pelo espelho?
ResponderExcluirMuito bom...:)
ResponderExcluirMaia, adorei teus comentários, aqui e lá no Gavinhas. Amo esse poema do Pessoa. Concordo com você, o belo dele é o jogo de espelhos.
ResponderExcluirAgora me mata uma curiosidade: o que é s.m.j. que você escreveu lá?
Desculpa lá se é muita burrice, mas não consegui descobrir.
Bisous
Marta, eu também acho muito bom esse poema. Sou apaixonada por ele e sei-o de cor desde há muito tempo.
Bisous aussi.
Marie
s.m.j é como um data venia, salvo melhor juízo. Faz parte da linguagem burocrática (respeitosa) jurídica do Brasil cartorial.
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