Gerana Damulakis
O poeta geralmente sofre da síndrome de ser vário. Walt Whitman vociferou: "Sou vasto. Contenho multidões". Fernando Pessoa inventou os heterônimos para multiplicar-se. E Mário de Sá-Carneiro chegou a dizer: "Morro à míngua, de excesso" e, sendo tantos "já não me sou". Enquanto o nosso Mário de Andrade proclamou ser trezentos, trezentos e cinqüenta, mais precisamente. Há qualquer coisa de Iago (em Otelo, de Shakespeare): "Não sou o que sou". Florbela Espanca completa: "E neste sonho eu já nem sei quem sou...".
A poeta portuguesa não escapou a essa tendência de sentir sua personalidade multifacetada. Fez-se princesa, castelã, sóror e, cada uma - como diz José Régio em estudo crítico - "morta, ressurgirá em todas as mulheres beijadas pelo homem que a amou". Como nos contos de fada, Florbela traz a concepção de viver encantada. Por tal, Jorge de Sena atenta que a poeta se transforma em seres de outros reinos, e crê que só terá esse encanto quebrado com a vinda da morte. A poesia de Florbela Espanca, como um diário, registra os estados de espírito, os seus vários: da ansiedade à depressão, do delírio da paixão à exaltação ilimitada. Daí ser terna ou voluptuosa, daí doar-se e se sacrificar ou apiedar-se com imensa comiseração de si mesma: "Tantas almas a rir dentro da minha!".
A poeta portuguesa não escapou a essa tendência de sentir sua personalidade multifacetada. Fez-se princesa, castelã, sóror e, cada uma - como diz José Régio em estudo crítico - "morta, ressurgirá em todas as mulheres beijadas pelo homem que a amou". Como nos contos de fada, Florbela traz a concepção de viver encantada. Por tal, Jorge de Sena atenta que a poeta se transforma em seres de outros reinos, e crê que só terá esse encanto quebrado com a vinda da morte. A poesia de Florbela Espanca, como um diário, registra os estados de espírito, os seus vários: da ansiedade à depressão, do delírio da paixão à exaltação ilimitada. Daí ser terna ou voluptuosa, daí doar-se e se sacrificar ou apiedar-se com imensa comiseração de si mesma: "Tantas almas a rir dentro da minha!".
A poeta não alcança a saciação: "Sede de beijos, amargor de fel,/ Estonteante fome, áspera e cruel,/ Que nada existe que mitigue e a farte!". Sem preconceitos, essa angústia por tamanha vontade de amar está liberta de amarras, justamente para mostrar os conflitos da alma feminina e sua volubilidade: "Eu quero amar, amar perdidamente!/ Amar só por amar: Aqui... além.../ Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente.../ Amar! Amar! E não amar ninguém!".
Tantas mulheres em uma poeta.
Externo: quem está no comando?
ResponderExcluirInterno: não sabemos.
E: como não sabemos, que plural é esse? Eu perguntei para você, pessoa única.
I: ora, como se fosse simples assim. Aqui dentro tem: o alegre, o triste, o solitário, o desconfiado, o paranóico, o disciplinado, o estudioso, o arteiro e o artista, o leitor, o escriba, o encrenqueiro e o pacificador. Um monte de gente como podes ver.
E: Mas isto não são pessoas, são personalidades...
I: portanto, a cada vez somente uma delas é que manda e no momento não sabemos ao certo.
E: Então pergunto: qual o clima.
I: céu de brigadeiro sujeito a tempestade tropical com direito a jogar merda no ventilador...
E: interessante...
I: lá vem o passante...
E: passante?
I: transeunte, melhor dizendo.
E: de onde saiu este? Este ainda não foi apresentado.
I: o transeunte é aquele que passa pela vida, pelos momentos, e nada vê. Depois precisa recordar.
E: recordar é viver...
Eu me sinto um mosaico.
ResponderExcluirTarde, Figura, O dos comentários/posts.
ResponderExcluirVocê entende do riscado.
Muito bom.
Bípede, como disse a Adélia Prado: "ser gauche na vida é maldição para homem, mulher é desdobrável."
Gerana, AMO Florbela, todas.
E todos os compartimentos do Pessoa.
E o José Regio, como poeta.
Sá Carneiro e Jorge Sena pouco conheço. Mas os Portugueses e suas Pessoas poéticas e literárias muito me agradam.
Quem, com um pouco de sensibilidade, não tem essa sensação de ser muitos???
Gnte, gente: em poruguês, desdobrável é Folder!
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