O General estava debruçado na amurada.
De olhos fechados sentia a brisa salgada do Atlântico e era como se fosse jovem outra vez.
Perdera a conta das vezes que atravessara aquele mar.
Poucos homens da idade dele teriam aguentado aquela última travessia.
Ele não era um homem vulgar, mas estava velho, e sabia que nunca mais voltaria ao Brasil.
Foi despedir-se das suas fazendas. Dizer adeus ao açúcar que os brasileiros traziam no corpo e na voz.
Por mais que gostasse daquela terra tinha de ir morrer no chão que o viu nascer.
Além disso, já estava longe há mais de seis meses e os abismos de casa insistiam em chamá-lo.
Estava velho, cansado. Soube-o quando o corpo das mulatas deixou de o acordar.
O General soltou um sorriso amargo, mais um esgar de fel que um sorriso, ao recordar os corpos gementes de tantas mulheres que teve e murmurou:
-Tive todas as que o meu desejo reclamou, umas que se entregaram dóceis, outras que tomei à força, mas nunca me prendi a nenhuma como àquela rameira. Rameira? Cadela maldita que mereceu bem a morte que teve.
Puta. Puta. Puta, gritou o General, enraivecido e partiu a bengala contra o mastro.
Ultimamente, ouvia os gritos dela e à noite acordava com lembranças de chuva, cães a ladrar, sangue, gritos…
Talvez fosse ela a chamá-lo para o inferno, porque era para lá que ia, disso não tinha dúvidas.
Ia? Não, no inferno, já ele estava há muito tempo.
(continua)
Apple, está ficando cada vez melhor...
ResponderExcluirGostei imenso desta parte.
Marie
e mais? :)
ResponderExcluirSim, cada vez melhor1 Quero mais! Muito bom mesmo. parbéns! Um orgulho! :-) Poppet
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