terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Continuando...(7)



O General estava debruçado na amurada.
De olhos fechados sentia a brisa salgada do Atlântico e era como se fosse jovem outra vez.
Perdera a conta das vezes que atravessara aquele mar.
Poucos homens da idade dele teriam aguentado aquela última travessia.
Ele não era um homem vulgar, mas estava velho, e sabia que nunca mais voltaria ao Brasil.
Foi despedir-se das suas fazendas. Dizer adeus ao açúcar que os brasileiros traziam no corpo e na voz.
Por mais que gostasse daquela terra tinha de ir morrer no chão que o viu nascer.
Além disso, já estava longe há mais de seis meses e os abismos de casa insistiam em chamá-lo.
Estava velho, cansado. Soube-o quando o corpo das mulatas deixou de o acordar.
O General soltou um sorriso amargo, mais um esgar de fel que um sorriso, ao recordar os corpos gementes de tantas mulheres que teve e murmurou:

-Tive todas as que o meu desejo reclamou, umas que se entregaram dóceis, outras que tomei à força, mas nunca me prendi a nenhuma como àquela rameira. Rameira? Cadela maldita que mereceu bem a morte que teve.
Puta. Puta. Puta, gritou o General, enraivecido e partiu a bengala contra o mastro.

Ultimamente, ouvia os gritos dela e à noite acordava com lembranças de chuva, cães a ladrar, sangue, gritos…
Talvez fosse ela a chamá-lo para o inferno, porque era para lá que ia, disso não tinha dúvidas.
Ia? Não, no inferno, já ele estava há muito tempo.


(continua)

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