segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Continuando...(6)


As dúvidas cresciam como nuvens de temporal.
As suspeitas adensavam-se e a obsessão com o proibido, com aquilo que aquela porta maciça vedava, ameaçava tornar-se no único objectivo da sua existência.
Demorou anos a ganhar coragem para se aproximar. Aquela ousadia, se descoberta, equivalia à expulsão do Éden. Não que por ali a vida fosse um paraíso, longe disso…
Anos a debater-se com a tentação de ir além da porta e, num impulso incontido, quase que se denunciava.
Já entre os lençóis de linho, a tentar aquecer o corpo gelado pela nudez, pelo frio da noite e pelo tremor de excitação que a transgressão lhe soprava na pele, sabia que o sono tardaria em chegar.

A luz que passava pela fresta só podia significar uma coisa.
E a farinha no chão? Engenhoso e simples.
Ideia do velho de certeza, um cão de guarda, afinal. Patético e sabujo.
Não, pobre diabo, um triste, um títere nas mãos do General…

Os lençóis cheiravam levemente a alfazema.
Um cheiro que lhe acordava memórias longínquas, de contornos indefinidos… um colo quente, voz suave, mãos brancas de dedos longos, o anel… chuva, cães a ladrar, sangue, gritos…

Acordou com o grito rouco que não parecia ter saído de si, num mar de suor e lágrimas, o bater do coração descompassado e as memórias a fugirem-lhe depressa antes de as conseguir agarrar…


(continua)

4 comentários:

  1. ah até que enfim que descobri o que é o minimo ajuste...fiquei surprrendido com o convite que recebi, não fazia a mais pequena ideia do que era. mas honrado com o mesmo, claro está.

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  2. momórias, memórias...

    estou suspensa querida appel!

    muito bom! mais, pf.

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  3. Apple, não demore muito. Estou começando a sofrer de ansiedade :)

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  4. Você escolheu muito bem seu pseudônimo.
    Ôoo, tentação....
    Mais, mais, mais...

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