O casal é como a maionese. Há quem consegue na primeira tentativa e há quem não consegue nunca. E é uma zona quando dá pra trás. Dá vontade de remisturar. E, se ao final consegue-se ser capaz de não mandá-la ralo abaixo na pia mas recuperá-la in extremis, não será jamais uma maionese que valha grande coisa. E nem o casal. Que valha grande coisa. Eu, a maionese compro em tubo. Espremo enquanto tem e depois jogo fora. Não me agrado da embalagem de vidro. Porque quando está acabando devo raspar o fundo e isso me dá nervoso miudinho. O tubo é mais prático. Quando tá quase todo espremido chupa-se um pouquinho e se vem só ar com gosto de plástico, entende-se que tá na hora de jogar fora. Fácil.
A minha amiga Margarida sempre foi incapaz em matéria de maionese. Muito azeite. Muito ovo. Ao ponto que, para não ficar sem, comprava no atacado em tamanho maxi, tipo aqueles dos refeitórios. Mas agora vai casar. Inacreditável. Marga, nunca se sabe o quê esperar dela. É um pouco como os pedaços da estação espacial Mir que podem cair em qualquer lugar. E casa-se com uma alma perdida, alto como uma tíbia de vaca mas até bonitinho. Chamam-no Ikea, por conta dos traços suíços. Bonito burro. Aproximando-se da sua cabeça pode-se escutar os ecos dos gongos. Bate a meia-noite. Marga me mostrou o seu vestido de noiva. Com aquele negócio sobre si parece uma bomboniere de vidro de Murano. Soprada quente. Um enorme abacate. Uma gigantesca pastilha Valda. Diz que assim se parece com uma das fadinhas da Bela adormecida , mas não sabe se a Fauna, a Flora ou a Serena.
Vestido branco era demais. Marga tem duas certezas na vida e uma é que não é mais virgem. Numa coisa a invejo. Na lista de presentes. Aqueles maravilhosos aparelhos de jantar. Aqueles deliciosos copos coloridos. E também a panela de pressão. Daquelas alemãs que explodem somente se você tentar cozinhar uma bomba dentro. Eu me casaria só pra ter finalmente, copos que não são aqueles da Nutella.
E para evitar que um dia, sabe-se lá como, me dê na cabeça de fazê-lo, quando varro a casa, me dou sempre uma varridinha nos pés. Assim. Por precaução.Do livro: La pricipessa sul piselo de Luciana Littizzetto
Tradução: Mariane Corbetta
Marie, um texto deliciosamente comestível! Adorei. Mas as imagens estão cortadas. Não sei como aparecem na sua tela. Na minha falta quase que toda a cor de rosa.
ResponderExcluirUm texto delicioso, que se lê de uma lambada só, como quando se está com fome e vai devorando tudo bem rápidamente. E de um senso de humor finíssimo!
ResponderExcluirParabéns!
Nossa, como isso aqui está fervendo!! se deixamos de visitar dois dias, perdemos é coisa! Mas tudo tão bom!!! Nem sei com o que contribuir.
ResponderExcluirexcelente e delicioso texto.
ResponderExcluirLá está, delicioso texto.Comentário nada original, mas foi o que me ocorreu quando terminei de ler e eis que chego aqui e a sensação parece ter sido unânime. Delicioso sim, mas com aquele travo de ironia e um certo azedume que me agrada.
ResponderExcluirPessoa, vocês todos conseguem ver as imagens? Eu só vejo uma e um pedaçinho e ninguém comentou nada sobre isso. Será que estou com um olho boiando enquanto o outro agita?
ResponderExcluirMuito bom. As relações amorosas são como as comidas que acabamos por engolir goela a dentro. Podem ser boas ou estragadas. Compradas no supermercados ou feitas a mão. Dependerá do gosto.
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