quinta-feira, 3 de junho de 2010

AS TRÊS IRMÃS

A mais nova come quatro pacotes de macarrão instantâneo e um litro de suco artificial por dia, e reclama das roupas apertadas. Reclama porque a vida não está acontecendo, e agora ouço seus soluços, está de novo trancada no quarto. Pelo que entendi, a do meio, que está na sala, a está consolando pelo MSN. A do meio é pacata e sensível. Mas precisa se soltar. Pintar mais os olhos e a vida. Hoje, ela acendeu incensos para tentar purificar o ambiente. Tivemos uma sinfonia de lamentos por aqui. Reais, sim, todos eles. Nenhuma dor é irrelevante. Sou a mais velha nessa casa. Mas elas dizem que sou o meio-termo. Engraçado: pela primeira vez, sou o meio-termo. Nós três somos diferentes, e felizes juntas. Gosto de dividir minhas coisas, emprestar roupas e colo. Poder dar risadas, cantar, comer e chorar com elas. Gosto de lavar a louça que a mais nova deixou na pia e recolher no varal aquelas roupas pequenininhas da do meio. Trazer chocolate para casa. Poder chamar este lugar de casa, e essas duas mulheres maravilhosas, de irmãs.

7 comentários:

  1. As minhas três irmãs estão sentadas numa rocha de obsidiana preta.Nesta luz, pela primeira vez, posso ver quem são.

    Minha primeira irmã costura um traje de procissão. Vai como uma Senhora Transparente e todos os seus nervos ficarão visíveis.

    Minha segunda irmã também cose sobre a ferida do coração, que nunca cicatrizou inteiramente,espera, por fim, tornar
    impermeável o seu peito.

    A terceira contempla uma crosta de púrpura que se espalha para fora do mar.Suas meias estão rasgadas, mas é bela.
    Adrienne Rich

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  2. Renata: Feliz de quem tem irmãos. Mais feliz ainda quem os ama, como tu, fazendo todas estas coisas. Bj.

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  3. Paulo, na verdade sou filha única. Ganhei essas duas irmãs de coração há pouco tempo... E com elas, estou aprendendo tanta coisa, o que eu não aprendi em uma vida inteira.

    Beijo pra ti.

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  4. Tão diferentes que se completam...

    Gostei desse post!

    Abraço, Renata.

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