terça-feira, 1 de junho de 2010

Wilson Bueno - 1949-2010



Chuvas



Bicho líquido de fiel transparência, as chuvas chovem no zinco de nosso teto humilde com a graça quase invisível de ariscas lagartas, e mínimas, muitas, coleantes, uma que vez cândidas.

Quis no verão sua morada, e o ímpeto com que serpenteia da nuvem ao telhado e dalí às caleiras da casa, ninho suspenso estre o arrozal e as águas.

Há, contudo, diversas espécies de chuvas - de chuviscagens a chuvões, veros maremotos, bebendo a Terra, rios e lagos, riachos e cascatas.

Se me sugas feito um vício eu sou a chuva que teu chão lambe com uma volúpia de amantes entranhados - um no outro encharcados, até a última gota e a derradeira raiz mais chã.

Lavas-me o rosto a esguichos; brinco de intempérie e miasmas, cobrem meu corpo vossas mágoas. Água? Cantam as calhas nosso lamento, longe, enxurrada em lá maior, aguaceiro, coral de anilhas.



Wilson Bueno, nasceu em Jaguapitã, no norte do Paraná. Escritor de renome internacional, tendo livros publicados na Argentina, no Chile, no Paraguai e no México. Deixou publicados ente outros, "Bolero's Bar", "Manual de Zoofilia", "Ojos de água", "Cachorros do céu" "Amar a ti nem sei se com carícias" e "Mar Paraguaio", talvez o mais conhecido de todos, onde faz uma abordagem sobre as ditaduras que ocorreram na América Latina. Foi assinado em sua residência em Curitiba, no dia 31 de maio passado.

Um comentário:

  1. Eu não vi a notícia do jornal. Que horror ser assassinado e em casa :(
    O mundo está um lixo.

    Bípede Falante

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