sábado, 5 de junho de 2010

PELICANOS - WILSON BUENO

"Os pelicanos são como avis raras, e moram, em seu silencioso coração, as reticências.
Arcar com o severo pesadume do bico é, deles, dos pelicanos, uma insubstituível marca e, de certo modo, um glorioso acinte. Pudessem, não envergariam pela vida afora os bicos como trombas tristes e nem exibiriam as longas melancólicas pernas feito uma humilhação compulsória.
Ah, guardam, no escuro papo guardam uma esmeralda viva e sonham por nós o sonho oblíquo de que sendo sumamente feios, de físico e de feição, nós, os dois, neste lago merencóreo, alcancemos soar, quem diria?, perfeitamente escarlates.
Voar não podemos dada a complexidade do corpo contra a magra asa. Assim, jaburu, o nariz e a dilatada marca de teu lábio inchado." Wilson Bueno












Foto: Daniel Snege
Um Poeta que vai...

1949/2010 Faleceu em 01.06.2010 Wilson Bueno
Wilson Bueno: Um dos mais inventivos escritores brasileiros em atividade. Considerado um dos mais importantes escritores brasileiros contemporâneos, tornou-se nacional e, em certos círculos, internacionalmente.
"Wilson levou a literatura além das fronteiras, como fizeram Mário de Andrade e Carlos Drummond", afirmou o irmão sobre o escritor, que tinha livros publicados no Chile, Cuba, México, Argentina e EUA. De acordo com Santana, Wilson "tinha um jeito irreverente de escrever". E acrescentou: "tenho muito a agradecer a ele".
Um escritor, um poeta, escreve para todos. Semeia palavras, conta histórias, distribui partículas de sua sensibilidade que alcançam a alma de seus leitores. Os escritores, os poetas, os artistas todos, deveriam ser homenageados com o retorno dessa distribuição de felicidade. Deveriam poder partir em paz, anjos que foram ou são em vida, antíteses da maldade [...]

Amor, sim:
Porque tudo é belo —
A romã, o lábio, a fala, a cisterna.
Amor de amar
A casta flor do chão
E as reentrâncias do muro,
A manhã, a lua, a tarde.
Amor, sim:
Porque a cor do antúrio
Conta uma história serena
E amar o calmo confirma
O ânimo, os deuses que riem
À sombra das árvores
Do jardim de Parmênides.
Amor, sim:
Porque, amorosa, até a nuvem,
Ainda que gasosa acolherá
Meus todos, meus plenos, teus inteiros.
Do livro “35″ (poemas de amor)

Um Poeta que deixa saudades....
Com amor e carinho,
Sílvia

2 comentários:

  1. Falta-nos palavras, diante de tragédias como esta, Silvia. Deixa saudades... Mas é preciso seguir sonhando, cultivando palavras e sonhos, como tão bem fez o poeta. Beijo grande.

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  2. Assinando em baixo!
    Hoje fui tomar um cafézinho na 'Boca Maldita" aqui na Rua das Flores, e o assunto foi só esse. Mas o que ficou de bom ao voltar para casa foram vários e vários Poemas dele que ouvi cá acolá... Foi bom ver cidadãos do mundo citando seus verso, poemas e tudo mais com orgulho gostoso, mas com uma saudades eterna.
    Bjs.
    Sílvia

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