sexta-feira, 4 de junho de 2010

Íris e Pálpebras

Jamais veremos nossas próprias pálpebras fechadas,
Salvo se for de forma alternada
(o que é meio cômico ou sinistro),
Ou por meios artificiais como a fotografia.

A face externa de nossas pálpebras
Não nos diz respeito.
Delas não damos testemunho.

No espelho
Estão sempre lá os círculos autoritários das íris
Úmidas,
Frontalmente paralelas,
Diuturnamente atentas.
Jamais surpreendemos seus súbitos desvios.

Nossas íris têm inimizade pelas pálpebras oclusivas,
Tão taxativas, tão inapeláveis.
Podemos vê-las inquietas sob a fina pele
Das pálpebras dos adormecidos,
Arredias, como animais capturados,
E impacientes por espaço e luz.
























Números e constelações em amor com uma mulher 
(1941) - Joan Miró.

4 comentários:

  1. Lindo!
    Íris, "impacientes por espaço e luz"... Sabem elas que sem as pálpebras não haveria o sossego necessário da escuridão?

    Abraço, Marcantonio.

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  2. Comecei a ler e uma certa familiaridade gritou de lá: Marcantônio????? Era...rsr

    Estilo, meu caro, marca que a gente diexa, dom que tem nossos jeito de esmiuçar o mundo, os olhos, íris e pálpebras.
    Maravilha!
    Abraços, Marquinho

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  3. Lindo poema, excelente trocadilho com as palavras... Adorei.

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  4. Tenho pensado muito sobre meus olhos nestes últimos dias, pensando porque me são preciosos e porque um ponto desconhecido e preto surgiu do nada para atrapalhar a minha estética visão da vida.

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