terça-feira, 13 de julho de 2010

Ainda ontem


          Ainda ontem, ela estava sentada em frente ao micro quando decidiu que não iria mais escrever. Nenhum trabalho, nenhum soco, nenhum amor. Iria ficar calada, presa à cadeira, feito um transgressor qualquer em processo de punição e remorso. Ainda ontem, antes de chegar no escritório, ela havia pego o telefone do quarto várias vezes antes de decidir que nunca mais iria usá-lo do mesmo modo que deixaria também esquecido no armário o manto de lã e obediência que a acompanhara desde o início. Ainda ontem, segurando o aparelho, ela ouvira o ruído desbotado de uma voz que quase nada mais dizia, mesmo que um registro de tom e tempo e carinhos tivessem ficado gravados feito o título de um último disco.

Continua em Contos Marginais.

7 comentários:

  1. Lindo, lindo, lindo..
    Adorei teu blog, Flor..
    BJok

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  2. ..mas hoje é sempre um novo dia, né? Queiramos ou não, as águastomam nova direção.
    Bjos

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  3. Tania, o ontem está sempre colado no hoje, como no poema Norton Burnt, onde o tempo passado e o tempo presentes estão ambos contidos no tempo futuro.

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  4. "O passado volta/ no futuro/ e esse/ sentimento é apenas/ uma reação química/ reversível/ e velha - automética -/ dos sentidos".

    BF: o texto é instigante.

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  5. Gerana, é um texto de amor, feito para um homem imaginário com rosto de um vale sagrado, que tenha rosto de terra, gosto de terra. No fundo, no meio e no raso, sou uma grande romântica :)

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