quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mala...

Muito linda essa escrita de Adelia Prado.
Faz parte do livro Bagagem. Foi à primeira publicação de Adélia Prado, de 1976, por indicação de Carlos Drummond de Andrade. Declaração da autora sobre a obra: "Meu primeiro livro foi feito num entusiasmo de fundação e descoberta nesta felicidade. Emoções para mim inseparáveis da criação, ainda que nascidas, muitas vezes, do sofrimento”.
Em seu poema ela relatou a sensação da estreia: "O meu alívio foi constatar que depois da festa o mundo continuava igual e a perplexidade que gerou Bagagem continuava intacta. Foi ver que a poesia não desertara de mim". Do ponto de vista estilístico, destaca-se a combinação dos contrários, como tristeza e alegria, tanto quanto do lirismo e da ironia, jeito diferente que a autora tem de dizer às coisas que sente e vê. Identifica-se apenas como Adélia, mas é uma mulher que rima, uma mulher do povo, e mulher de forno e fogão, que cuida de cachorro e grita quando algo lhe dói, mas tem a sensibilidade para as coisas boas da vida. Ao mesmo tempo, desenha-se requintada e esquisita, isso depois que já tiver composto um livro com seu nome – imagina-se, o próprio livro que o leitor tem naquele momento em mãos. Dessa maneira, vemos que a significação da mulher é uma das características fundamentais da obra de Adélia Prado. Assim, fica claro que se trata de uma mulher que cumpre a sina há tempos a ela destinada: casar, parir os filhos, cuidar da casa. E escreve. Enfim, ao mesmo tempo, não deixa de ser uma “nova mulher”, que se define, que se encontra e que tem consciência de inaugurar uma linguagem, fundar reinos. Dessa maneira, ela planta sua semente através da poesia, fundando reinos que irão resultar na literatura feminina amadurecida dos tempos atuais. Reinos infinitos, que se ampliam de acordo com as conquistas da mulher nesta sociedade ainda tão desigual. Entretanto, o eu-lírico declara que a dor não é amargura; e isso é dito entre parênteses, como um adendo, para que não seja esquecido. Sim, a mulher já sofreu muito, e ainda sofre, porém essa dor não se transformou em amargura, mas em crescimento, em poesia. [Análise feita por Jaqueline Alice Cappellari, do curso de Letras das Faculdades Porto-Alegrenses de Educação, Ciências e Letras, orientada pela Profª Diana Maria Marchi.]
Minha escolha para passar um pouco de Adélia:
Mala...

Hoje descobri que tenho em mãos a chave da minha direção,
do meu destino, do meu trajeto, estou cansada desta caminhada;
desta mala!
Resolvi fazer esta viagem há alguns anos atrás, peguei minha bagagem!
Com sentimentos vivos aflorando minha vida, cheia de esperança...
Coloquei meus ideais, meus sonhos e sai carregando no ombro esse enorme peso.
Ao longo do caminho percebi os calos deixados em minhas mãos.
Desta coluna envergada pelo peso, das lagrimas de dor... Derramadas pela alma!
Tudo foram se perdendo pelo caminho... Minhas forças já não era a mesma...
Precisava tirar um pouco do peso, ao abrir a mala pra jogar fora parte daquilo, que me sufocava... O fracasso do meu casamento, os sonhos desfeitos no chão!
E naquela mala estavam apenas ilusões, onde fui à tristeza, a dor, o desamor!
Perdi a inocência da adolescência... Onde a única coisa que queria era viver meu conto de fada... Ser a princesa amada!
Quantos Desencantos? Fui assaltada nesta estrada sem fim.
Descobri um pouco tarde mais não tão tarde para ser feliz!
E hoje, sei que eu preciso gostar de mim mesma, que sou um ser feito de horizontes e liberdade...
Só preciso buscar um novo caminho ilimitado... Onde eu possa vivenciar um novo amor, dividir a responsabilidade com meu novo parceiro...
Que ele seja meu companheiro e cavalheiro... Que possamos juntos carregar nossa mala cheia de amor,
Onde de igual para igual seguremos juntos a alça do nosso destino!
E possa algum dia esquecer toda essa vida triste que passei...
Ao lado de quem nunca mereceu o meu amor!



Beijos meu carinho sempre!
Sílvia

3 comentários:

  1. Silvia... eu amo essa música. Aliás, amo música.

    Se tivesse como eu escolher uma só música, esta seria uma delas(!).

    Me remete a uma coisa quente, boa, minha. Antiga.

    Beijo

    Carla

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  2. Carla me aguarde. Música é meu território. Também amo-as. Irei deixar um recadinho no seu Blog. Até mais.
    Beijos
    Sílvia

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  3. "Só preciso buscar um novo caminho ilimitado... Onde eu possa vivenciar um novo..."
    Hoje é o começo, de um novo ano, é um bom dia para iniciar isso...

    Parabéns mãe, pelo texto e pelo teu dia!!!

    Te amo!!!

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