quarta-feira, 14 de novembro de 2012

The long and winding road

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

(Vinícius de Moraes)


5 comentários:

  1. Um dos poemas de Vinicius que mais gosto. Já chorei muito com ele, quando sabia chorar...rs Mas continuo achando um dos mais belos.

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  2. e não sabe mais?
    eu estou aprendendo!

    beijoss

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  3. Não sei mais. Ou talvez as lágrimas saiam pelos poros...rs
    Beijos,

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  4. Pois eu choro, sou uma chorona de carteirinha :)
    O grande poema épico que é a vida, não me dá outra escolha, a não
    ser misturar, de vez em quando, com umas boas risadas. Mas choro mais do que rios de alegrias!!!

    beijos

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  5. Vinicius... ninguem expoe o amor tao bem como ele... lindo o poema...

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