sábado, 17 de novembro de 2012

A gargalhada e o nascimento do mundo...!




"Tendo rido Deus, nasceram os sete deuses que governam o mundo. Quando ele gargalhou, fêz-se a luz...Ele gargalhou pela segunda vez: tudo era água. Na terceira gargalhada, apareceu Hermes; na quarta, a geração; na quinta, o destino; na sexta, o tempo. Depois, pouco antes dá sétima gargalhada, Deus inspira profundamente, mas ele ri tanto que chora, e de suas lágrimas nasce a alma".
(Autor anônimo - século III - papiro de Leyde) - O Universo nasceu de uma enorme gargalhada. Deus, o Único, qualquer que seja seu nome, é acometido - não se sabe por quê - de uma crise de riso louco, como se, de repente,  ele tivesse consciência do absurdo de sua existência. Nessa versão da criação, Deus não cria pela palavra, que já é civilização, mas por esse espocar de vida selvagem, e cada um de seus sete  acessos faz surgir do Nada um novo absurdo tão absurdo quanto o próprio Deus: a luz, a água, a matéria, o espírito. E no final desse big bang cômico e cósmico, Deus e o universo encontram-se em um face a face eterno, perguntando um ao outro o que estão fazendo lá: aquele que ri e sua gargalhada.


Georges Minois, em História do Riso e do Escárnio - Editora UNESP - São Paulo
O autor é professor de História, membro do Centre International de Recherches et d'Études Transdisciplinaires. Tem publicado também História dos Infernos, História da Velhice no Ocidente, História do Suicídio, História do Ateísmo, entre outros títulos.

Um comentário:

  1. Que maravilha, Ci! No princípio era o riso...o riso não, uma gargalhada...e o mundo se fez. Adorei a postagem e delirei com a possibilidade de as gargalhadas criarem universos.

    Beijos,

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